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Imagem do médico demonstrando ovário

Retirada dos ovários: em que situações esse procedimento ajuda na redução do risco de um câncer de mama?

A retirada dos ovários pode contribuir para a prevenção do câncer de mama, mas tal decisão deve ser ponderada com cuidado

A partir do momento em que uma mulher é mapeada dentro de um grupo de alto risco para desenvolver um câncer de mama e ovário, medidas de rastreio, prevenção e profilaxia podem ser adotadas para minimizar tal condição. Nesse contexto, a retirada dos ovários (e, eventualmente, das tubas uterinas) pode ser indicada.

A chamada salpingo-ooforectomia bilateral pode contribuir para reduzir o risco de câncer tanto nas mamas quanto nos ovários, sobretudo em pacientes com alterações genéticas que predispõem a uma maior chance de desenvolver a doença. Entretanto, diante da extensão e das consequências dessa intervenção, diversos aspectos devem ser cuidadosamente ponderados antes de seguir em frente.

A profilaxia do câncer de mama por meio da retirada dos ovários

Os ovários são as glândulas reprodutivas do corpo feminino. Desse modo, elas produzem e dispersam os óvulos. Em seguida, o óvulo liberado passa pelas tubas uterinas, também conhecidas por trompas de Falópio. Essas estruturas têm cerca de 10 centímetros de comprimento e ligam os ovários ao útero, local onde os óvulos são fertilizados.

Além disso, os ovários são responsáveis pela produção de hormônios importantes para a regulação de uma série de processos no organismo. Com isso, eles são as principais fontes de progesterona e estrogênio para o corpo da mulher. Porém, esses hormônios também estão associados ao desenvolvimento e a progressão de quadros de câncer nas mamas e nos próprios ovários.

Logo, se há um risco adicional de desenvolver a doença, a remoção dos ovários e das tubas uterinas é uma alternativa profilática (ou seja, com o objetivo de prevenir o problema). Algo similar pode ser feito com relação às mamas: mulheres com alto risco de desenvolver um câncer de mama podem se submeter a uma mastectomia profilática.

Esse tipo de procedimento, claro, traz inúmeros impactos para o corpo da mulher. Além de afetar definitivamente a capacidade de ter filhos biológicos, a retirada de ovários e tubas uterinas pode gerar uma série de manifestações similares àquelas experimentadas na menopausa. Portanto, ondas de calor, alterações de humor e disfunções sexuais podem ser comuns.

Saiba mais: Quais são os principais fatores de risco para um câncer de mama?

As situações em que essa intervenção pode ser indicada

Como não poderia deixar de ser, qualquer processo de decisão de uma medida profilática deve ter no centro uma discussão cuidadosa entre médico e paciente. De qualquer maneira, alguns aspectos costumam orientar essa opção. Entre eles estão:

  • Detecção de mutações nos genes BRCA 1 e 2. Essas alterações estão associadas a um risco relativamente maior do desenvolvimento de tumores nas mamas e nos ovários;
  • Parentes de primeiro grau com tumores já diagnosticados na mama e/ou nos ovários;
  • Histórico familiar de câncer de ovário em especial com diagnósticos antes dos 50 anos;
  • Já ter sido diagnosticada com um câncer de mama precoce (entre os 20 e 40 anos).

O diálogo entre médico e paciente também pode ajudar a definir o momento em que a cirurgia vai ser feita, sempre conforme as evidências disponíveis. Desse modo, é possível ampliar o benefício da intervenção. Normalmente, o procedimento é feito entre os 35 e 40 anos, a partir do momento em que a mulher decide não ter mais filhos. Mulheres que passaram por mastectomias profiláticas podem postergar a intervenção por alguns anos.

A retirada dos ovários pode ser considerada também por mulheres que desejam uma medida profilática que provoque menos alterações visuais no corpo ou que se preocupam também com o risco de desenvolver câncer nos ovários. Cabe ressaltar que esse tipo de tumor ainda não conta com ferramentas eficientes de rastreio. Portanto, pode ser mais difícil diagnosticá-lo adequadamente em estágios iniciais, afetando o tratamento.

Por fim, remover os ovários costuma também ser uma opção para mulheres que não querem se submeter a terapia hormonal ou a quimioprofilaxia, alternativas comuns ao procedimento mais radical. Vamos retornar a esse ponto ainda neste artigo.

A eficácia da retirada dos ovários na prevenção do câncer de mama

Um estudo publicado em 2021 mostrou como funciona a relação entre a remoção dos ovários e das tubas uterinas em mulheres com mutações nos genes BRCA 1 e 2 e a redução do risco de desenvolver câncer nas estruturas removidas.

O estudo concluiu que os benefícios na redução são percebidos tanto no curto prazo (até 5 anos após a cirurgia), quanto no longo prazo, sobretudo para portadoras da mutação BRCA 1. Além disso, parece haver uma relação entre a idade em que a remoção é feita e o tamanho da redução do risco: quanto mais cedo, maior o benefício. Esse resultado também foi mais significativo em mulheres com a mutação BRCA1.

Para exemplificar os achados do estudo, os pesquisadores apontaram que uma mulher com uma mutação no BRCA1 que não tenha passado por uma cirurgia profilática tinha risco cumulativo de desenvolver um tumor na mama de 61% aos 70 anos. Enquanto isso, uma mulher nessa mesma faixa sem a mutação acumulava um risco de 12,1%. Contudo, o risco pode ser reduzido para 48,2% se a mulher tiver seus ovários retirados aos 30 anos, conforme a publicação indica.

Possíveis efeitos colaterais da retirada dos ovários

Após a realização da cirurgia, em um período que pode variar de algumas horas a vários dias, a paciente pode experimentar alguns efeitos colaterais relacionados à remoção dos ovários. Eles são provocados pela queda na quantidade de estrogênio no organismo. Os sintomas podem incluir:

  • Ondas de calor ou fogachos;
  • Fadiga;
  • Alterações de humor;
  • Secura ou irritação vaginal;
  • Queda da libido
  • Mais raramente são relatadas dores articulares, espasmos musculares, insônia, incontinência urinária e/ou quadros de ansiedade.

Como tais sintomas podem persistir por muito tempo, o ideal é conversar com seu médico para encontrar formas de aliviá-los. Felizmente, existem diversas terapias efetivas para promover uma melhora da qualidade de vida. Em pacientes sem histórico pessoal de câncer a terapia de reposição hormonal de curto prazo é uma opção, por exemplo. Além disso, quem passa pelo procedimento deve também tomar as medidas necessárias para cuidar da saúde óssea devido ao risco de osteoporose associada à queda hormonal.

Algumas das alternativas profiláticas disponíveis

Nem toda mulher com alguma modificação na mama se beneficia de uma cirurgia profilática. Em alguns casos, a quimioprevenção acaba sendo a melhor alternativa. É o que acontece, por exemplo, em casos de hiperplasia ductal atípica. Nessa hipótese, são prescritos medicamentos que podem contribuir para reduzir a chance de desenvolver um câncer de mama.

Os mais utilizados são o tamoxifeno e os inibidores de aromatase. Eles atuam modulando a ação de hormônios como o estrogênio e a progesterona. No longo prazo, eles tendem a reduzir o risco de desenvolver um câncer de mama. Ou seja, o controle do papel dos hormônios no risco de ter um câncer seria resultado da ação do medicamento e não da retirada dos ovários.

Medidas de quimioprevenção similares também podem ser adotadas em mulheres portadoras de mutações BRCA, mediante avaliação levando em conta alguns aspectos. A introdução da quimioprofilaxia pode contribuir também para prevenir que o tumor volte, inclusive na mama oposta àquela primeiramente tratada. Para que isso surta o efeito esperado, é necessário que o tumor previamente diagnosticado tenha receptores hormonais positivos.

Diante de tudo isso, fica perceptível de como a retirada dos ovários pode ser importante na prevenção de tumores na mama e nos ovários. Logo, ela é uma alternativa valiosa, mas que não é indicada para todos os casos. Se de um lado, o temor de desenvolver um câncer pode afetar a qualidade de vida, as consequências das medidas de profilaxia podem fazer com que seus benefícios não sejam tão proeminentes a ponto de justificar a intervenção.

Aproveite e veja de que forma outra mutação, a PALB2, aumenta o risco de um câncer de mama e o que pode ser feito para minimizá-lo.

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