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Mulher tomando um comprimido

Quimioprevenção: quando determinadas medicações podem ajudar a reduzir o risco de câncer de mama?

A quimioprevenção é uma medida que pode ser utilizada por mulheres com um risco de desenvolver câncer de mama acima da média

Mulheres com um risco maior de ter um câncer de mama podem se beneficiar da chamada quimioprevenção. Na prática, essa intervenção envolve a utilização de medicamentos para reduzir a chance de desenvolver um tumor na região.

O uso desses fármacos pode trazer alguns efeitos colaterais. Além disso, é preciso levar em conta que geralmente eles precisam ser usados por longos períodos. Dessa forma, os riscos e os benefícios da quimioprevenção devem ser cuidadosamente pensados por médicos e pacientes, garantindo a efetividade da decisão.

Para quem a quimioprevenção pode ser indicada?

Em primeiro lugar, determinar a necessidade da quimioprevenção passa pela avaliação de risco de desenvolver um câncer de mama. Ou seja, é preciso determinar se a paciente tem uma chance acima da média de desenvolver a doença, embora não haja consenso sobre a linha de corte para esse parâmetro.

Para isso, são considerados inúmeros fatores. Muitos desses componentes da avaliação de risco são modificáveis (como deixar de fumar e reduzir o sedentarismo, por exemplo), enquanto outros não podem ser alterados. Entre alguns fatores de risco não modificáveis estão:

  • Idade.
  • Número de parentes com histórico de câncer de mama.
  • Identificação de determinadas alterações genéticas (como mutações nos genes BRCA1 e BRCA2).
  • Histórico de carcinomas (ductais ou in situ) diagnosticados no passado.
  • Histórico de hiperplasias ductais ou lobulares atípicas.
  • Exposição anterior à radiação no tórax.

A partir disso, são utilizadas escalas que apontam por meio de modelos estatísticos qual o grau de risco da paciente. Nesse contexto, desde maio de 2023, as novas diretrizes do Colégio Norte-Americano de Radiologia reforçam a necessidade de que todas as mulheres passem por uma avaliação aos 25 anos para identificação de riscos acima da média de ter a doença.

Por outro lado, mulheres que já tenham sinais e sintomas indicativos de um câncer de mama ou já tiveram a doença no passado não têm indicação para o uso da quimioprevenção. Além disso, cada caso precisa considerar algumas contraindicações, como o risco de coágulos, o desejo de engravidar ou uso de estrogênio em outras medicações (como pílulas anticoncepcionais).

Leia também: De que forma a mutação PALB2 aumenta a chance de uma mulher desenvolver câncer de mama?

Que medicamentos podem ser usados nesse processo?

Embora o termo “quimio” seja utilizado, é importante reforçar que os fármacos usados na quimioprevenção são diferentes daqueles empregados no tratamento quimioterápico convencional, utilizado em boa parte dos casos da doença. Levando isso em conta, os medicamentos mais adotados em regimes de quimioprevenção são divididos em dois grupos: os moduladores seletivos do receptor de estrogênio e os inibidores de aromatase.

Moduladores seletivos do receptor de estrogênio (como o tamoxifeno e o raloxifeno)

Tamoxifeno e raloxifeno costumam ser amplamente empregados na quimioprevenção. Ambos pertencem à classe dos moduladores seletivos do receptor de estrogênio. Na prática, isso significa que eles atuam dentro do organismo, bloqueando a ação do estrogênio em determinados tecidos, incluindo as células mamárias.

Ainda que seja essencial em vários mecanismos do corpo, o estrogênio pode “alimentar” o desenvolvimento de um câncer de mama. Logo, o bloqueio seletivo provocado pelo tamoxifeno e pelo raloxifeno reduz a chance da doença. Além de opção de quimioprevenção, esses fármacos são parte do tratamento de muitos quadros de câncer de mama.

As evidências apontam que o tamoxifeno pode reduzir o risco de ter um câncer de mama em até 50%, enquanto com o uso do raloxifeno a queda alcança 38%. Porém, é preciso considerar alguns efeitos colaterais associados aos medicamentos. Entre eles estão os sintomas de menopausa precoce (como ondas de calor, sudorese noturna e disfunções sexuais), a formação de coágulos sanguíneos e a elevação (ainda que pequena) no risco de desenvolver um câncer uterino.

Inibidores de aromatase (como o anastrozol, o letrozol e o exemestano)

Enquanto o tamoxifeno é indicado para mulheres na pré-menopausa, os inibidores de aromatase podem ser prescritos com alternativas de quimioprevenção em mulheres já na pós-menopausa. Entre os inibidores de aromatase mais utilizados estão o anastrozol, o letrozol e o exemestano. Eles também podem ser usados no tratamento do câncer de mama em si, e não apenas na prevenção.

Fármacos dessa classe funcionam impedindo a ação de uma enzima chamada aromatase. Ela é responsável pela conversão de outros hormônios do organismo em estrogênio, reduzindo sua disponibilidade no corpo. É por isso que eles são recomendados para mulheres que já ultrapassaram a menopausa.

No mais, o perfil das possíveis reações adversas faz com que os inibidores de aromatase sejam uma opção a ser considerada em mulheres com alto risco de desenvolver coágulos, por exemplo. Entre os efeitos colaterais mais comuns dos inibidores de aromatase estão sintomas da menopausa, dores musculares e articulares, elevação dos índices de colesterol e aumento no risco de osteoporose devido à redução da densidade óssea.

O que a paciente deve saber antes de iniciar a quimioprevenção?

Para surtir o efeito desejado, a quimioprevenção deve ser mantida, na maior parte dos casos, por períodos acima de 5 anos. Os medicamentos são administrados por via oral, geralmente na forma de comprimidos tomados uma vez ao dia.

Além disso, nem todas as mulheres terão o mesmo benefício na adoção da quimioprevenção, principalmente quando se pondera os riscos dos efeitos colaterais. No mesmo sentido, mulheres sem risco adicional de desenvolver um câncer de mama não obtêm nenhuma vantagem na utilização profilática desses fármacos.

Em resumo, a quimioprevenção pode contribuir para reduzir a chance de desenvolver um câncer de mama em pacientes com determinados perfis. Para alcançar o benefício esperado com o uso desses medicamentos, é fundamental passar por uma avaliação adequada, em que profissionais e pacientes colocam na balança as vantagens e os riscos de cada opção. Por fim, uma vez indicado o tratamento, é importante acompanhar os possíveis efeitos colaterais e manter o médico informado sobre a evolução deles.

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