
Técnica de respiração profunda com sessões de 20 minutos ajuda no controle da dor do câncer, indica estudo
A dor do câncer é um dos sintomas associados ao quadro capazes de causar várias alterações no cotidiano do indivíduo, comprometendo ainda mais a sua qualidade de vida. Por isso, o controle dessa manifestação deve ser parte permanente das conversas entre médicos e pacientes.
Nesse cenário, um estudo publicado em julho de 2024 no BMJ Supportive & Palliative Care demonstrou que 20 minutos de exercícios de respiração focada contribuem para o alívio da dor. Assim, essa pode ser mais uma medida não farmacológica capaz de auxiliar a contornar tal queixa.
As manifestações de dor no câncer
Estima-se que entre 30% e 50% dos pacientes com diferentes tipos de câncer terão algum episódio de dor de intensidade moderada ou grave em algum momento da jornada de combate ao tumor.
As causas para isso são variadas. Ou seja, diferentes tipos de neoplasia podem causar dor por circunstâncias distintas. Entre algumas das explicações mais comuns para o fenômeno estão:
- compressão de nervos por conta do avanço do tumor;
- comprometimento de tecidos próximos da lesão maligna;
- dores de origem neuropática (ou seja, por conta de alterações nos tecidos nervosos);
- efeitos colaterais de determinados tratamentos.
Entre pacientes com câncer de mama, a dor, por si só, não costuma ser um sintoma frequente da doença. No entanto, ela pode surgir em casos de desenvolvimento de um câncer de mama inflamatório ou da progressão da doença até um estágio metastático.
Além disso, a sensação dolorosa pode ser consequência de abordagens necessárias para tratar o quadro. Exemplo disso acontece em mulheres submetidas a uma cirurgia ou a sessões de radioterapia.
Adicionalmente, o uso de medicamentos da classe dos inibidores de aromatase (empregados para controlar a atividade hormonal da mulher) também pode desencadear episódios de dor articular e muscular.
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O papel das intervenções não farmacológicas no manejo da dor do câncer
A partir da orientação profissional, vários medicamentos podem ser prescritos para fornecer alívio à dor. Eles são alternativas valiosas e não devem ser descartados, mas seu uso precisa ser feito sempre com a devida supervisão, dentro das recomendações profissionais.
Em paralelo, medidas complementares que não necessariamente utilizam qualquer substância são capazes de fornecer resultados igualmente satisfatórios. A elas se dá o nome de intervenções não farmacológicas.
Exercícios físicos regulares, sessões de fisioterapia ou mesmo abordagens psicoterápicas e de medicina alternativa (como a acupuntura) são exemplos comuns dessas possibilidades de suporte.
Mais recentemente, os especialistas vêm voltando a atenção também para o potencial de técnicas de meditação. Em resumo, elas envolvem uma série de programas de exercícios cujo objetivo é voltar a atenção do indivíduo para o momento presente.
A possível eficácia de técnicas de respiração focada em curtos períodos
Ainda que haja evidências positivas do uso da meditação no alívio dos relatos da dor do câncer, a maioria delas é proveniente de estudos que analisam programas estruturados de mindfulness. Eles têm como característica a necessidade de manter a prática por algumas semanas.
Mas e se a orientação envolvesse apenas exercícios rápidos de meditação focada, com duração de alguns minutos? Seria possível alcançar algum benefício? Era isso que pesquisadores da Malásia responsáveis pelo estudo destacado na introdução deste conteúdo queriam saber.
Para isso, foram reunidos 40 pacientes que haviam relatado uma dor de intensidade igual ou superior a 4, em uma escala que ia até 10. Seis pacientes tinham um diagnóstico de câncer de mama. Tumores colorretais, ginecológicos e pulmonares também faziam parte da amostra em maior número.
A partir disso, um grupo de 21 pessoas foi encaminhado para a prática de uma técnica de respiração focada para estimular o relaxamento do corpo, similar à meditação mindfulness convencional. O exercício era dividido em quatro etapas, que juntas somavam 20 minutos.
Os 19 participantes do segundo grupo não fizeram o exercício de respiração. Em vez disso, eles integraram um grupo de escuta ativa, em que falavam sobre si e a experiência com a doença também por pelo menos 20 minutos.
No final, pelos resultados coletados a partir de questionários com os pacientes, foi possível constatar que aqueles que haviam feito os exercícios de respiração relataram menos dor (tanto em intensidade quanto em quantidade) e menos ansiedade em relação ao desconforto.
Incluindo esses possíveis benefícios no dia a dia
Os autores do estudo ressaltam que 20 minutos é um intervalo de tempo que demonstrou resultados efetivos, diferentemente de períodos menores. Eles levaram em conta que, em estudos anteriores, apenas cinco minutos de respiração focada haviam falhado na demonstração de benefícios significativos.
O trabalho apresentado ainda esbarra na amostra pequena utilizada para alcançar os resultados. A diversidade de diagnósticos e a multiplicidade de estágios da evolução da doença também atrapalham a análise dos dados obtidos.
De qualquer maneira, a prática de intervalos de 20 minutos de respiração focada no controle da dor do câncer é uma medida acessível. Ela não oferece riscos, nem exige alguma estrutura específica. Basta ter um espaço tranquilo e o tempo necessário para se dedicar ao controle do entra e sai de ar até alcançar o relaxamento do corpo.
Para mais dicas sobre qualidade de vida durante o tratamento do câncer de mama, confira algumas recomendações sobre como se alimentar durante esse período.