
As novas alternativas de tratamento não hormonal para as ondas de calor da menopausa
Dentro das alterações fisiológicas notáveis, as ondas de calor da menopausa não são apenas uma das mais comuns, como também estão entre aquelas com maior capacidade de afetar o bem-estar feminino à medida que a idade avança.
Assim, as opções de reposição hormonal acabam sendo uma recomendação frequente dos médicos. No entanto, elas contam com restrições importantes e não se aplicam a todos os casos.
Nesse cenário, as terapias não hormonais vêm recebendo cada vez mais destaque, com inovações recentes que podem ser valiosas.
O impacto das ondas de calor da menopausa na qualidade de vida
Em linhas gerais, a menopausa se estabelece a partir do momento em que a mulher passa 12 meses seguidos sem menstruar. Isso significa que a idade fértil terminou e o organismo não leva mais adiante o processo de liberação dos óvulos.
Geralmente, acontece entre os 44 e os 55 anos, mas casos precoces (antes dos 40) e tardios (depois dos 55) não são raros.
Com a interrupção da atividade dos ovários, é esperado que o nível de estrogênio do corpo caia naturalmente. A partir disso, vários sintomas podem ser notados e as ondas de calor são um dos mais comuns.
Estima-se que mais de 75% das mulheres na menopausa terão tal sensação. Elas são explicadas por alterações vasomotoras (ou seja, na circulação do sangue) e se manifestam na forma de episódios que duram alguns minutos, muitas vezes acompanhados de rubor na face, suor e calafrios.
Casos mais extremos são bastante desagradáveis e comprometem até mesmo a capacidade de realizar atividades do dia a dia.
Adicionalmente, cabe destacar que o calorão pode ser relatado também por pacientes com câncer de mama. Tal manifestação é mais presente naquelas submetidas à hormonioterapia ou às sessões de quimioterapia.
Saiba mais: Quais as indicações e principais efeitos colaterais da hormonioterapia para o câncer de mama.
Outras manifestações comuns do corpo durante a menopausa
Entre outras queixas constantes com potencial de comprometer a qualidade de vida nesse período estão:
- ressecamento vaginal;
- dor durante as relações sexuais;
- queda na libido;
- alterações psíquicas (maior irritabilidade e sintomas depressivos, por exemplo);
- modificações na distribuição de gordura pelo corpo;
- alterações de peso;
- cansaço;
- perda de massa muscular e óssea.
Normalmente, o médico confirma que a paciente está na menopausa a partir do relato dos sintomas e de exames que permitem avaliar a concentração de determinados hormônios.
A reposição hormonal nem sempre é uma boa opção
A lógica da reposição hormonal, abordagem mais utilizada para o manejo do quadro associado à menopausa, é relativamente simples: a ideia é garantir ao organismo níveis adequados de determinados hormônios. Com isso, é possível retomar o equilíbrio de diversas funções e aliviar os desconfortos relatados.
Embora os resultados sejam bons diante de uma prescrição adequada, o tratamento esbarra em algumas limitações.
Existem contraindicações absolutas, como histórico de câncer de mama ou endométrio, trombose venosa profunda, embolia pulmonar, doenças cardiovasculares graves, doenças hepáticas ativas e sangramento vaginal de causa desconhecida.
Nessas situações a exposição aos hormônios é considerada arriscada e não deve ser utilizada, conforme orientam as diretrizes sobre o tema assinadas em conjunto por várias entidades médicas brasileiras.
Nesses casos, será necessário recorrer às chamadas terapias não hormonais. Como já mencionado, isso pode ser feito pela administração de certas doses de fármacos desenvolvidos com outras finalidades (como antidepressivos ou medicamentos para determinadas condições neurológicas).
As novidades nas abordagens não hormonais das ondas de calor da menopausa
A boa notícia é que inovações estão começando a surgir. A mais notável delas é o registro no mercado americano do fezolinetant (cujo nome comercial é Veozah), disponível desde 2023 após aprovação do FDA (entidade equivalente à Anvisa).
Ele é um antagonista do receptor de neurocinina 3 (NK3) administrado por via oral na forma de pílulas. Em termos simples, sua ação bloqueia esse receptor cerebral que trabalha na regulação de calor no organismo.
O ensaio clínico batizado de DAYLIGHT avaliou a eficácia e segurança do fezolinetant. Os resultados demonstraram que uma dose de 45 mg administrada uma vez ao dia reduziu significativamente a frequência e a gravidade dos sintomas vasomotores ao longo de 24 semanas em comparação com o placebo. Adicionalmente, as participantes relataram melhorias no sono e na qualidade de vida geral.
Todavia, como qualquer outro medicamento, ele pode causar efeitos colaterais indesejados (como dores de barriga, diarreia e dificuldade para dormir). Além disso, há contraindicação absoluta para pacientes com disfunções hepáticas.
Posteriormente, já no segundo semestre de 2024, o elinzanetant, que funciona de forma similar ao fezolinetant, teve seu processo de registro iniciado.
A avaliação da eficácia e da segurança do produto está em curso, mas estudos já demonstraram resultados promissores (inclusive em outros aspectos da menopausa, como dos distúrbios do sono).
Outras medidas capazes de ajudar mulheres na menopausa
Ainda que as novidades sejam relevantes, não se sabe ao certo quando tais alternativas de tratamento não hormonal estarão disponíveis no Brasil.
Seja como for, com a devida orientação é possível obter bons resultados no gerenciamento dos fogachos combinando certas terapias que não envolvem o uso de medicamentos com algumas mudanças de estilo de vida (como na alimentação, escolha de vestuários mais frescos, controle de peso e interrupção do tabagismo).
Entre algumas que demonstram certa efetividade em determinados contextos estão:
- acupuntura, técnica tradicional da medicina chinesa em que agulhas são inseridas em pontos estratégicos do corpo;
- mindfulness, uma forma de meditação cujo objetivo é exercitar o foco no momento presente;
- ioga, um tipo de prática que combina determinados movimentos do corpo com exercícios de relaxamento;
- psicoterapias baseadas em intervenções cognitivo-comportamentais (TCC), que podem ajudar a mulher a lidar melhor com as percepções negativas em torno da queixa.
É indispensável o acompanhamento médico de qualquer intervenção voltada a controlar as ondas de calor na menopausa, bem como quando elas são parte dos efeitos colaterais de um tratamento oncológico. Dessa forma, é possível discutir em conjunto os riscos e os benefícios de cada opção, entre outros fatores pertinentes na decisão a ser tomada.
Aproveite agora e confira quais são as restrições para uma gestação durante a hormonioterapia e quando é possível interrompê-la para tentar engravidar.