Blog

Mulher deitada na cama e ouvindo música através de seus fones de ouvido sem fio

Música pode aliviar os comprometimentos cognitivos associados ao chemobrain

O câncer é uma condição crônica que gera efeitos no corpo para além do físico. Mesmo após o término do tratamento, muitas pessoas convivem com alterações psicológicas e cognitivas que podem durar anos.

Entre as sobreviventes de câncer de mama, dificuldades de memória, concentração e raciocínio — conhecidas como chemobrain, são especialmente comuns. Segundo estudo publicado na revista médica Complementary Therapies in Clinical Practice, esses efeitos colaterais (que podem ser tardios) podem afetar até 78% das pacientes.

Nos últimos anos, a ciência tem buscado compreender melhor esse quadro e testar novas formas de tratamento. E uma delas vem de um caminho inesperado: a música.

As características do chemobrain

O termo chemobrain, ou “névoa cerebral”, é usado para descrever as mudanças cognitivas que podem ocorrer durante ou após o tratamento do câncer.

De forma simples, o quadro envolve dificuldades em atividades que antes pareciam naturais e inclui sintomas como:

  • redução na velocidade de raciocínio e na capacidade de resolver problemas;
  • dificuldade de concentração e para finalizar tarefas;
  • lapsos de memória recente.

Essas alterações frequentemente ocorrem como efeito colateral da quimioterapia. No entanto, conforme explica um artigo publicado na revista da Associação Brasileira de Câncer do Sangue (ABRALE), as causas ainda não são totalmente compreendidas.

Isso significa que podem também estar associadas aos outros tratamentos oncológicos (como radioterapia e terapia hormonal), aos medicamentos indicados e ao estresse psicológico da doença.

Em alguns casos, as manifestações são leves e passageiras; em outros, podem durar meses ou até anos após o fim do tratamento do câncer.

Apesar de o problema ser reconhecido por especialistas, não há medicamentos aprovados especificamente para o manejo do chemobrain. Por isso, terapias complementares e estratégias alternativas têm ganhado destaque em pesquisas nos últimos anos.

Leia mais: Quem faz quimioterapia, o que pode comer? Confira 5 recomendações para ajudar na alimentação

Como a música é aliada na recuperação cognitiva

Um estudo recente publicado na revista médica Complementary Therapies in Clinical Practice investigou como ouvir música diariamente poderia ajudar mulheres com câncer de mama a aliviar os sintomas cognitivos e psicológicos após o tratamento.

A pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade do Texas em Austin adaptando a técnica de meditação kundalini baseada em mantra, denominada Kirtan Kriya (KK), que envolve canto, visualização e movimentos com as mãos e já se provou eficiente para idosos com declínio cognitivo.

Vinte e sete mulheres que haviam passado por quimioterapia e relatavam dificuldades de concentração e memória participaram do estudo e foram divididas em dois grupos:

  • grupo musical: as participantes ouviram músicas clássicas (como Mozart, Bach, Beethoven e Tchaikovsky) por 12 minutos diários;
  • grupo de meditação: as mulheres praticaram a técnica Kirtan Kriya também durante 12 minutos por dia.

Após oito semanas, ambos os grupos apresentaram melhora cognitiva significativa, incluindo maior capacidade de focar, lembrar palavras e priorizar tarefas, além de melhora no raciocínio e na capacidade de resolver problemas. Porém, o grupo que apenas ouviu música também relatou benefícios adicionais, como:

  • menos estresse e fadiga;
  • melhora no humor e bem-estar geral;
  • maior prazer na rotina diária.

Os pesquisadores explicaram que a razão para esse resultado pode estar relacionada ao fato de que ouvir música pode ativar e envolver todo o cérebro, funcionando como uma espécie de “treinamento de atenção”. Esse estímulo contínuo favorece outros processos mentais, como memória e processamento de informações.

Outro ponto positivo levantado é a acessibilidade. Ouvir música é uma intervenção simples, de baixo custo e fácil de manter. Diferentemente de outras terapias cognitivas, não exige deslocamento, treinamento ou acompanhamento especializado, possibilitando uma maior adesão e resultados eficazes.

Confira também: Entenda como funciona e quais benefícios da reabilitação física após o câncer de mama

Outras alternativas para lidar com o chemobrain

Embora ainda não exista um tratamento único para o chemobrain, de acordo com artigo publicado no portal do Breast Cancer várias abordagens podem ajudar a reduzir seus sintomas e melhorar a qualidade de vida.

Musicoterapia

A musicoterapia também envolve música como tratamento, mas é conduzida por um profissional qualificado que propõe outras atividades como cantar, tocar instrumentos, criar composições e explorar os significados das letras.

Essa prática tem mostrado bons resultados no alívio de sintomas cognitivos, ansiedade e depressão. Muitos centros oncológicos e hospitais já oferecem esse tipo de acompanhamento.

Práticas e hobbies

Algumas terapias alternativas e abordagens complementares podem promover benefícios e fortalecer a atividade cerebral e a saúde mental, como:

  • meditação e mindfulness, para reduzir o estresse e melhorar o foco;
  • ioga, qigong e acupressão, que equilibram corpo e mente;
  • reabilitação cognitiva, feita com acompanhamento especializado;
  • atividades intelectuais, como leitura, palavras cruzadas ou sudoku.

Hábitos diários e saudáveis

Pequenas mudanças na rotina também são recomendadas e podem ajudar a amenizar os efeitos:

Ao que tudo indica, com o acompanhamento adequado e intervenções simples, como ouvir música, é possível recuperar a confiança e a clareza mental após o tratamento do câncer, minimizando os efeitos cognitivos e retomando a rotina com mais leveza e bem-estar.

Aproveite e conheça também a técnica de respiração profunda com sessões de 20 minutos que ajuda no controle da dor do câncer.

Médica mastologista especializada em reconstrução mamária. Além de sua prática clínica, Dra. Brenda atua como mastologista no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, é preceptora da residência médica de Mastologia na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP) e membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia. | CRM-SP 167879 / RQE – SP Cirurgia Geral: 81740 / RQE – SP Mastologia: 81741

ps.in@hotmail.com

Sem comentários
Comentários
Nome
E-mail
Website