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Homem no merado com alimentos ultraprocessados

Alimentos ultraprocessados e câncer: pequena redução no consumo diminui risco de doença, diz estudo

Cada vez mais, a conexão entre alimentos ultraprocessados e câncer vem sendo investigada, orientando novas medidas de prevenção

A alimentação pode contribuir, sobretudo no longo prazo, com as chances de desenvolver diferentes doenças, incluindo vários tipos de câncer. Nesse contexto, são cada vez mais relevantes estudos que investigam a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e câncer.

Embora esse tipo de alimento faça cada vez mais parte da dieta de parte relevante da população, a boa notícia é de que uma pequena redução no consumo pode representar uma diminuição no risco associado a esse hábito. Essa é uma das conclusões de um estudo publicado no The Lancet Planetary Health, em fevereiro de 2023.

Por que falar na relação entre alimentos ultraprocessados e câncer?

A definição do que é um alimento ultraprocessado se estabelece a partir da chamada Classificação NOVA. Essa forma de encarar a alimentação leva em conta não os nutrientes que compõem o alimento, mas sim seu grau de processamento. Dessa forma, um alimento pode ser classificado como:

  • Ingrediente culinário (óleo, açúcar, sal e temperos utilizados na preparação de receitas);
  • In natura (como frutas, legumes e vegetais);
  • Minimamente processados (como grãos que foram polidos ou moídos);
  • Processados (feitos a partir de alimentos in natura ou minimamente processados, além dos chamados ingredientes culinários);
  • Ultraprocessados (elaboradores a partir de processos industriais, muitas vezes com componentes inacessíveis em uma cozinha doméstica).

Tal concepção substitui a famosa pirâmide alimentar. Ela tinha uma base que orientava o consumo de carboidratos, depois proteínas e assim sucessivamente. Essa forma de organização da alimentação levava em conta justamente os nutrientes de cada alimento, ignorando a forma como eles eram preparados.

A classificação por grau de processamento é a base do Guia Alimentar da População Brasileira. O documento fornece recomendações sobre como deve ser a dieta de uma pessoa, levando em conta, inclusive, aspectos sociais e culturais. No mais, a regra de ouro do guia é de que uma alimentação equilibrada deve privilegiar sempre alimentos in natura ou minimamente processados.

Com o tempo, essa orientação vem ganhando cada vez mais respaldo. Crescem o número de evidências que associam o consumo de alimentos ultraprocessados com quadros de obesidade, doenças cardiovasculares entre outras doenças crônicas.

Além disso, o câncer é outra doença que pode ter contribuição desse tipo de alimento, inclusive devido a outros fatores associados (como a obesidade, por exemplo). Dessa forma, cuidar desse aspecto da saúde pode ser uma ferramenta valiosa de prevenção.

Como a redução de consumo de alimentos ultraprocessados afeta a chance de desenvolver um câncer?

Para ampliar as evidências a respeito da relação entre alimentos ultraprocessados e câncer, um grupo de pesquisadores (com cientistas brasileiros entre eles, inclusive) utilizou uma base de dados com informações de mais de 500 mil pessoas. Esses dados foram reunidos entre 1991 e 2001, entre 10 países europeus.

Foram excluídos participantes que já tinham tido um tumor diagnosticado e aqueles que estavam no topo ou no fim da lista de ingestão diária de calorias. No fim, a amostra analisada tinha 450 mil pessoas.

Esses voluntários tinham que responder questionários sobre o seu consumo de bebidas e alimentos. Além disso, eles eram acompanhados de forma periódica a respeito da sua condição de saúde. Todos aqueles que recebiam um diagnóstico de câncer tinham os casos registrados. No fim, 47573 pacientes desenvolveram algum tipo de tumor.

A partir disso, foram analisadas as correspondências entre os hábitos alimentares e a probabilidade de um diagnóstico de câncer. Para minimizar distorções, foram feitos ajustes de diferentes variáveis, como sexo, peso, nível de atividade física regular, tabagismo, diabetes e outros fatores que podem predispor a um risco maior de ter um câncer.

Assim, foi possível concluir que tanto uma redução de 10% no consumo de processados ou ultraprocessados e a substituição pela mesma quantidade de alimentos minimamente processados foi capaz de reduzir o risco de desenvolver, em diferentes graus, vários tipos de câncer, incluindo na mama.

Ao todo, os responsáveis pelo estudo consideram para a análise tumores em 25 partes do corpo. O resultado, ainda que pequeno e com certas limitações, mostrou com uma modificação esse padrãode comportamento pode ser benéfico.

Como consumir menos alimentos ultraprocessados no dia a dia?

Logo, o ideal é reduzir a participação de alimentos ultraprocessados na dieta. Além de reduzir o risco de câncer, isso contribui para minimizar a chance de desenvolver outros problemas de saúde. Entre algumas recomendações para alcançar esse objetivo estão:

  • Priorize alimentos in natura ou minimamente processados já na hora da compra. Em geral, esses produtos têm validade menor, então as compras precisam ser mais bem planejadas.
  • Prepare as próprias receitas. Cozinhar em casa ajuda a reduzir a presença de ultraprocessados na dieta;
  • Observe os rótulos dos alimentos e veja se há componentes de nomes difíceis. Isso acontece, por exemplo, em salgadinhos de pacote, bolachas, refrigerantes e alimentos congelados;
  • Na hora do lanche, opte sempre por frutas, castanhas e iogurtes naturais, entre outras opções minimamente processadas;
  • Se precisar comer fora de casa, evite estabelecimentos que servem fast food, por exemplo.

Leia também: Confira 7 dicas de alimentação durante o tratamento do câncer de mama

É claro que não é viável eliminar completamente os alimentos ultraprocessados da alimentação. Além disso, é importante levar em conta que eles têm um papel cultural em muitas ocasiões (pense nos doces de um aniversário, por exemplo). No mais, tenha sempre em mente que o câncer é uma doença quase sempre multifatorial, com diversos fatores que interagem de forma complexa no desenvolvimento da doença.

Assim, enquanto a ciência tende a estabelecer melhor a relação entre alimentos ultraprocessados e câncer, reforce hábitos que contribuem não só para a prevenção do câncer, como para o bem-estar como todo. Além da alimentação, isso envolve praticar atividades físicas regularmente, deixar de fumar e beber com parcimônia.

Falando nisso, aproveite e veja o que se sabe na relação entre câncer de mama e a ingestão de álcool.

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