Afinal, o câncer de mama entre jovens vem se tornando mais frequente? Veja o que se sabe sobre a doença entre esse público
O que pode explicar o aumento do número de episódios de câncer de mama entre jovens e o que é preciso considerar no tratamento desses casos?
Embora parte considerável dos casos de câncer de mama aconteça em mulheres mais velhas, sobretudo a partir dos 50 anos, quem ainda não alcançou tal idade não está imune à doença. Pelo contrário: alguns indicadores parecem apontar para um aumento da incidência do câncer de mama entre jovens.
Atualmente, a partir de dados coletados entre a população norte-americana, é possível estimar que pouco mais 5% dos casos de câncer de mama invasivos são diagnosticados em mulheres entre 15 e 39 anos, conforme aponta um artigo de 2021. Além disso, a doença já responde por 30% de todos os tumores diagnosticados nesse mesmo recorte etário. Isso faz do câncer de mama o tipo de câncer mais comum entre essa população.
Quais as tendências atuais de casos de câncer de mama entre jovens?
Também levando em conta números dos Estados Unidos, é possível indicar uma tendência no crescimento de casos de câncer entre as mulheres jovens. Essa elevação vem acontecendo desde 2004, de acordo com o artigo já citado, publicado no periódico Oncology Practice.
Dentro dessa tendência, os autores do estudo apontam que jovens têm maior chance de apresentar quadros avançados do câncer de mama no momento do diagnóstico. Isso, claro, aumenta o risco de mortalidade pela doença. De acordo com os dados do estudo norte-americano, dois terços das pacientes jovens são diagnosticadas com tumores em estágio II, III ou IV. Entre mulheres mais velhas, esse contingente é de apenas um terço.
No Brasil, fenômeno similar também parece estar em curso. Conforme dados de pacientes tratadas no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo publicados em artigo recente, o percentual de pacientes com menos de 40 anos subiu de 10% para 13% nos dois períodos comparados. Entre 2009 e 2014, 626 das 6.276 pacientes tinham menos de 40 anos. Já entre 2015-2020, as pacientes abaixo de 40 anos somavam 815, em grupo de 6.293 novos casos.
Os responsáveis pelo estudo indicam que tais achados estão em linha com aqueles encontrados em outros dados pelo mundo, reforçando a necessidade de entender melhor o que está provocando isso.
O que pode explicar o maior número de casos de câncer de mama nessas faixas etárias?
O histórico familiar costuma ser um componente frequente nos casos de câncer de mama entre mulheres jovens. Desse modo, mulheres que carregam consigo alterações em genes como o BRCA podem apresentar uma chance maior de desenvolver precocemente um tumor na mama. Conforme orientação médica, elas podem adotar as medidas diferenciadas de rastreamento e profilaxia.
O recente aumento dos casos de tumores na mama entre mulheres jovens não parece estar relacionado a questões genéticas e hereditárias, uma vez que o tempo necessário para que essa influência seja preponderante teria que ser muito maior.
Logo, diferentes fatores de risco modificáveis podem explicar melhor o aumento do número de diagnósticos. Desse modo, aspectos como fertilidade e amamentação, padrão das dietas, sedentarismo, excesso de peso/obesidade e consumo de alimentos ultraprocessados podem ser as causas de tais mudanças.
Ainda assim, muito precisa ser investigado para determinar melhor possíveis comportamentos responsáveis por elevar o risco de câncer em mulheres abaixo dos 40 anos. No mais, o crescimento dos casos de câncer em faixas etárias mais baixas pode orientar a discussão em torno das orientações sobre o rastreamento de novos casos, sempre considerando a relação entre risco e benefício de cada intervenção.
Veja também: O que precisa ser levado em conta no acompanhamento pós-câncer de mama?
Quais as diferenças no diagnóstico do câncer de mama entre jovens?
O diagnóstico do câncer de mama em pacientes abaixo dos 40 anos precisa considerar alguns aspectos relevantes. É preciso ter em mente, por exemplo, que além de não terem a recomendação geral de exames de rotina para detectar a doença, mulheres jovens tendem a ter o tecido da mama mais denso. Desse modo, pode ser difícil identificar alterações suspeitas na mama.
Além disso, é mais frequente que mulheres jovens (e até mesmo seus médicos) ignorem sinais e sintomas que podem indicar a presença de um câncer de mama. Entre as alterações que merecem atenção estão nódulos, alterações nos mamilos e secreções.
Em tal contexto, desde maio de 2023 as novas diretrizes do Colégio Norte-Americano de Radiologia recomendam que todas as mulheres (principalmente aquelas com risco elevado para o câncer de mama, como as de pele negra e de ascendência judaica asquenaze) façam uma avaliação de risco aos 25 anos. A partir disso, é possível determinar a necessidade de iniciar o rastreamento antes dos 40
Por isso, mulheres dentro desse recorte etário devem visitar um mastologista. Esse especialista avalia cada caso conforme o histórico da paciente e utiliza escalas que calculam o risco individual de desenvolver a doença. Essa mudança nas diretrizes reflete o aumento no número de diagnósticos de câncer de mama em mulheres mais jovens e a tendência de que a doença seja mais agressiva nessa fase da vida.
Ou seja, algumas mulheres poderiam se beneficiar da realização de exames preventivos mais cedo, em idades abaixo das recomendações atuais. Não custa reforçar que o diagnóstico precoce do câncer de mama afeta consideravelmente a chance de sucesso do tratamento.
Como é feito o tratamento nesses casos?
Confirmado o diagnóstico, o prognóstico das pacientes jovens tende a ser bom com a adoção do tratamento adequado. Porém, não é raro que esse perfil de caso tenha uma evolução pior, já que, como já mencionado, tumores agressivos são mais comuns abaixo dos 40 anos.
Além disso, costuma ser indicado que a mulher diagnosticada com câncer de mama antes dos 40 faça um teste genético para mapear mutações que podem explicar a doença precoce, como também influenciar nas chances de recidiva e no aparecimento de tumores em outras partes do organismo.
No câncer de mama em mulheres jovens, o comprometimento da fertilidade e reflexos sobre a sexualidade também pode despertar a preocupação das pacientes. Dessa forma, medidas para mitigar esses impactos são importantes. Se a mulher deseja ter filhos, ela pode discutir junto ao médico opções como congelamento de óvulos, intervenções para proteger os ovários e outras ações possíveis para preservar a capacidade reprodutiva.