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Retrato de uma mulher transgênero trabalhando em uma loja

Câncer de mama em pessoas transexuais: quais as recomendações de rastreamento?

O câncer de mama em pessoas transexuais é um risco que não deve ser negligenciado. Por isso, informações sobre ações de rastreamento são fundamentais.

Além de sofrerem preconceito e discriminação em diferentes âmbitos de suas vidas, é comum que minorias sexuais tenham maior dificuldade para acessar serviços de cuidado com a saúde. Em tal contexto, a prevenção do câncer de mama em pessoas transexuais é mais um tópico que acaba negligenciado por uma série de fatores.

Exemplo disso são as diretrizes de rastreamento da doença orientadas pelos órgãos de saúde. Enquanto mulheres cisgênero (ou seja, que se identificam com o gênero e sexo biológico com o qual nasceram) têm informações mais claras sobre quando fazer exames de rastreamento, pessoas trans (e também as não-binárias) têm dificuldade em receber a orientação e a assistência adequadas. Sem isso, é muito mais difícil identificar e tratar um tumor ainda em estágio inicial, comprometendo o desfecho do quadro.

Qual o risco do câncer de mama em pessoas transexuais?

Infelizmente, a literatura sobre o risco de pessoas trans desenvolverem câncer de mama ainda é limitada. Ainda assim, alguns fatores podem ser ponderados para determinar o que pode influenciar na chance de desenvolvimento da doença entre pessoas desses grupos.

Mulheres trans (ou seja, cujo sexo biológico no momento do nascimento era masculino, mas passaram pelo processo de transição) podem receber hormônios para desenvolver atributos femininos. Em tal contexto, alguns estudos indicam que isso pode elevar o risco de um câncer de mama, sobretudo em comparação a homens cisgênero.

Um estudo holandês publicado em 2019 mostra que esse risco pode ser 46 vezes maior. O número assusta, mas é preciso levar em conta que a chance de um homem desenvolver câncer de mama é baixíssima. Casos entre pessoas do sexo masculino respondem por menos de 1% do total de diagnósticos.

Entre os homens trans (cujo sexo biológico no momento do nascimento era feminino, mas que passaram pelo processo de transição), é comum que além da utilização de hormônios para o desenvolvimento de características masculinas, sejam feitas cirurgias para a remoção das mamas.

No entanto, esse tipo de procedimento não deve ser encarado como uma forma de eliminar totalmente o risco de desenvolver um câncer na região, já que nem sempre todo o tecido mamário é removido. Além disso, não se sabe ao certo como a exposição aos hormônios masculinos influencia no risco de ter a doença.

E o risco de desenvolver um câncer de mama em pessoas não-binárias?

Existem ainda menos informações sobre a chance de desenvolver câncer de mama entre pessoas não-binárias. Apesar disso, o cálculo do risco pode se guiar mais ou menos pelo que acontece com pessoas transgênero.

Assim, uma pessoa não-binária cujo sexo atribuído no momento do nascimento seja masculino, mas submetida a uma intervenção hormonal, pode ter uma chance maior. No sentido oposto, o risco pode cair em uma pessoa não-binária com sexo biológico feminino no momento do nascimento, mas que tenha passado por uma cirurgia de remoção das mamas.

Veja também: Nova orientação recomenda que avaliação de risco de câncer de mama seja feita aos 25 anos

Existem orientações específicas para ações de rastreio?

Ações de rastreamento envolvem a aplicação de exames periódicos em pacientes que não manifestaram sintoma de câncer de mama. Como exemplo, mulheres cisgênero podem ter a indicação de realizarem mamografias e outros exames específicos a partir dos 40 anos. Essa idade pode ser menor se um risco adicional de desenvolver a doença for identificado.

Mulheres trans e pessoas não-binárias com sexo masculino atribuído no nascimento

Para pessoas transgênero, as orientações variam de acordo com a diretriz. Dessa forma, conforme as orientações do Colégio Norte-Americano de Radiologia (ACR), mulheres trans ou pessoas não-binárias cujo sexo atribuído no momento do nascimento tenha sido o masculino têm como recomendação os seguintes parâmetros:

  • Não há necessidade de rastreamento se o uso de hormônios for inferior a cinco anos e o risco estiver dentro da média;
  • O rastreamento pode ser apropriado entre os 25 e os 30 anos se o uso de hormônios se estender por pelo menos cinco anos e houver risco acima da média identificado;
  • O rastreamento é usualmente indicado entre os 25 e 30 anos se houver uso de hormônios por mais de cinco anos e houver risco adicional identificado;
  • O rastreamento pode ser apropriado a partir dos 40 anos se o uso de hormônios se estender por cinco anos ou mais, desde que não haja risco adicional.

Como já destacado, essas orientações podem variar. Em alguns casos, pode ser indicado que a mulher trans simplesmente siga as diretrizes propostas para mulheres cis, por exemplo. 

Homens trans e pessoas não-binárias com sexo feminino atribuído no nascimento

Já para homens trans ou pessoas não-binárias atribuídas com o sexo feminino no momento do nascimento, as diretrizes indicam que:

  • Não há necessidade de rastreamento quando houver cirurgia completa de remoção da mama;
  • O rastreamento pode ser indicado a partir dos 40 anos, se não houver risco adicional identificado e se não tiver havido cirurgia de remoção da mama (ou se tiver sido parcial);
  • O rastreamento pode ser antecipado para os 30 ou 25 anos nos casos em que não houve cirurgia completa de remoção das mamas e um risco acima da média foi identificado.

Como a discriminação e o preconceito podem atrapalhar o acesso ao cuidado adequado desses grupos?

Seja qual for a diretriz, pessoas de minorias sexuais devem procurar ajuda especializada sempre que alguma alteração na região das mamas for notada. Dessa forma, o médico responsável pode aplicar os exames necessários para identificar a causa da mudança.

Além disso, toda iniciativa de rastreamento deve considerar as barreiras entre pessoas desses grupos para o acesso aos serviços de saúde. Outro estudo, também publicado em 2019, mostra como pessoas transgênero têm chances menores de receber orientação sobre o rastreamento de diferentes tipos de câncer, incluindo o de mama. De acordo com os dados, enquanto 65% das pacientes cisgênero passavam pelo rastreamento adequado, entre pacientes transgênero esse número era de apenas 33%.

Por isso, para adequar o cuidado com o câncer de mama em pessoas transexuais e de outras minorias de gênero, é fundamental que os serviços e profissionais de saúde estejam preparados para prover acolhimento sem estigmatizar e marginalizar tais populações. Dessa forma, é possível melhorar a experiência desses grupos durante o acompanhamento e reforçar outras medidas de prevenção essenciais para o cuidado com a saúde.

Aproveite e veja agora se o autoexame das mamas substitui a mamografia no rastreamento do câncer de mama.

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