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Mulher idosa conversando com médico após a cirurgia de mama

Resposta a terapia sistêmica inicial pode dispensar necessidade de cirurgia axilar extensa em câncer de mama com linfonodos comprometidos

Embora a efetividade das terapias sistêmicas (como a quimioterapia) contra o câncer de mama tenha avançado bastante nas últimas décadas, é comum que mastologistas orientem sobre a necessidade de uma cirurgia axilar extensa, também chamada de linfadenectomia axilar, para remoção dos linfonodos que eventualmente tenham sido atingidos pela progressão do tumor.

No entanto, um estudo apresentado na edição de 2024 da European Breast Cancer Conference e publicada em paralelo no European Journal of Cancer demonstrou que esse procedimento cirúrgico pode ser dispensado se a terapia sistêmica for capaz de eliminar a presença das células cancerígenas nos linfonodos axilares.

A evolução de um tumor e a necessidade de uma cirurgia axilar extensa

A partir do momento em que se forma, um câncer de mama pode progredir para outras partes do corpo. Nesse cenário, não é raro que os chamados linfonodos (estruturas do sistema linfático que ficam na região da axila) sejam um dos primeiros locais afetados além do tecido mamário.

Por isso, em alguns estágios da doença, a paciente pode ser submetida ao que os médicos chamam de esvaziamento axilar (ou também de linfadenectomia), em especial se houver sinal de alteração no linfonodo sentinela. Ele é o mais próximo do sítio original do tumor e costuma indicar a proliferação das células malignas.

Essa cirurgia extensa busca remover vários linfonodos (em um número que usualmente é igual ou maior que sete) que posteriormente são avaliados por um médico patologista para confirmar ou não a presença de células cancerígenas.

Contudo, tal abordagem pode trazer uma série de complicações, principalmente no que diz respeito ao pós-cirurgia. Nessa etapa a paciente pode conviver com limitações no movimento dos braços e ser afetada por ressecções de nervos da região ou a formação de linfedemas.

A partir disso, se houvesse um protocolo que permitisse identificar a proliferação do tumor com a remoção de poucos linfonodos, os médicos poderiam dispensar a paciente dessa intervenção mais invasiva.

Foi com isso em mente que um grupo de pesquisadores holandeses desenhou o estudo cujos resultados foram apresentados no primeiro semestre de 2024.

Saiba mais: Quais são as indicações de cirurgias em casos de câncer de mama metastático?

O desenho do estudo que avaliou a dispensa deste tipo de cirurgia

Para avaliar se seria possível dispensar as pacientes dessa cirurgia, os pesquisadores reuniram 218 mulheres diagnosticadas com câncer de mama entre 2014 e 2021. Em cada um desses quadros já haviam sido identificados pelo menos três linfonodos afetados pelas células cancerígenas.

Assim sendo, as pacientes foram tratadas conforme o protocolo batizado de MARI (sigla em inglês para marcação de gânglios linfáticos axilares com sinalização de iodo radioativo). Tal esquema considerava as seguintes etapas.

  • Os médicos utilizaram exames de PET/CT com o radiofármaco 18-fluordesoxiglicose para estadiamento e determinar a progressão do tumor em direção aos linfonodos da axila.
  • Os linfonodos de maior tamanho foram marcados com semente ou clipes de iodo radioativo, possibilitando que eles fossem identificados posteriormente.
  • As pacientes foram então tratadas com quimioterapia ou terapias-alvo como tratamento primário.
  • Na etapa seguinte, elas passaram por uma cirurgia que removeu apenas os linfonodos que haviam sido marcados com a semente de iodo.
  • Esse material foi examinado em busca de células cancerígenas.

Com os resultados em mãos, os médicos responsáveis pelo acompanhamento poderiam fazer uma opção. Nas mulheres que o linfonodo sinalizado não apresentasse traços de progressão da doença, a linfadenectomia seria dispensada.

Tal decisão consideraria que a terapia sistêmica inicial havia obtido resposta completa, com a ausência de tumor no momento da cirurgia.

Por outro lado, quando a presença do câncer fosse identificada no linfonodo marcado, a cirurgia de remoção de outros linfonodos seria mantida. Igualmente, ambos os grupos de pacientes passaram por sessões de radioterapia.

Os resultados obtidos com cada opção de tratamento

Após um período médio de acompanhamento de 44 meses (quase quatro anos), 103 pacientes passaram pela abordagem que dispensou a cirurgia mais extensa. Dentre os resultados obtidos foi possível destacar que:

  • 2,9% dessas mulheres tiveram uma recidiva do câncer justamente nos linfonodos axilares.
  • A taxa geral de sobrevida global foi de 95%.
  • A sobrevida livre de recorrência foi de 89%.

Entre as pacientes (115, ao todo) que submetidas ao procedimento cirúrgico que removeu mais linfonodos, os registros foram:

  • Taxa de recidivas de 3,5%.
  • Já a taxa geral de sobrevida alcançou os 90%.
  • Enquanto a sobrevida livre de recorrência foi de 82%.

Na média, a taxa de falsos negativos desse protocolo foi de 7%. Isso significa que a cada 100 casos, ele deixou de identificar a presença de células cancerígenas nos linfonodos em apenas sete.

Em suma, os números permitem sustentar que existe segurança na dispensa da cirurgia axilar extensa. Em determinadas circunstâncias, como quando há resposta completa na axila após o tratamento neoadjuvante, isso poderia alcançar até 80% dos casos de câncer de mama em tal estágio. No fim, tal escolha pode garantir a eficiência do tratamento ao mesmo tempo que reduz seu impacto sobre a qualidade de vida da paciente.

Quer entender mais sobre a relação dos linfonodos e o câncer de mama? Então, confira agora este outro conteúdo do blog.

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