As possíveis conexões entre o estresse e o câncer de mama
Por mais que tentemos impor limites, várias situações corriqueiras fazem com que o dia a dia seja tenso e nervoso. E não é difícil entender como isso pode ser prejudicial para a saúde, de diferentes maneiras. Assim sendo, muito vem sendo investigado para entender melhor qual a relação entre o estresse e o câncer de mama.
Esse tipo de pesquisa pode ser importante não apenas para compreender de que forma o corpo responde a esse tipo de situação e permitir o desenvolvimento de novos tratamentos, mas também para reforçar a necessidade de que esse aspecto do bem-estar seja levado em conta ao longo da jornada de combate a um tumor.
O estresse pode contribuir na evolução de um caso de câncer?
Na prática, o estresse é o conjunto de reações físicas e psicológicas produzidas pelo corpo quando estamos expostos a situações de pressão ou ameaça. Isso faz com que um estado constante de alerta seja mantido, o que nem sempre é necessário.
Logo, não é difícil imaginar os motivos que fazem com que um paciente diagnosticado com câncer experimente tal sensação, inclusive de forma contínua. A partir do momento em que se recebe a notícia sobre a doença será preciso lidar com várias incertezas e com diversas alterações na rotina.
Não por menos, uma série de estudiosos tentam demonstrar como isso pode prejudicar a chance de recuperação e remissão do tumor, ampliando a possibilidade de que a doença se dissemine por outras partes do corpo (a chamada metástase).
Nesse contexto, um trabalho feito com camundongos mostrou que os desarranjos provocados pelo estresse podem fazem com que algumas células do sistema imune (os neutrófilos) sofram determinadas alterações, deixando tecidos do organismo mais suscetíveis a proliferação do tumor.
Tais alterações indesejadas seriam causadas pela ação dos hormônios glicocorticoides sobre os neutrófilos. Essa substância é liberada de forma mais acentuada diante de situações crônicas de estresse.
Os autores apontaram que o nervosismo constante alterou tecidos de forma relevante mesmo onde não havia tumores. Isso talvez indique que o estresse não só contribui com a disseminação dos tumores, como também com a chance de que a doença surja, embora tal tipo de associação permaneça cercada de incertezas.
O estresse e as chances de recidiva do câncer de mama
Falando especificamente do câncer de mama, outros estudos apontam (ainda que de forma indireta) como o estresse poderia impactar nos desfechos de um quadro dessa forma da doença.
Uma revisão sobre o tema publicada em 2021 mostrou que há uma conexão moderada entre o impacto da tensão emocional e a chance de recidiva da doença.
Um artigo de 2015, por sua vez, indicou que pacientes com determinados quadros de câncer de mama que passaram por um programa de manejo do estresse apresentaram melhor sobrevida do que aquelas que ficaram de fora. Em tese, isso poderia indicar como o controle do impacto emocional durante o tratamento faria diferença.
Além disso, embora outras publicações já tenham proposto diferentes explicações fisiológicas de como o câncer é afetado pelo estresse, é preciso considerar sempre como o comprometimento psíquico afeta alguns comportamentos com influência sobre o desfecho da doença.
Basta pensar nas pacientes com dificuldade de levar em frente atividades simples por conta do estresse excessivo, prejudicando a continuidade do tratamento indicado. Ou daquelas que passam a adotar hábitos não tão saudáveis (como o consumo de álcool e o fumo) como forma de lidar com a situação adversa.
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O que ainda é preciso saber…
Ainda assim, mesmo com todas essas informações, as evidências que associam o risco do câncer de mama com o estresse ainda são tímidas, e ora até mesmo inexistentes. Em outras palavras, não se tem certeza de que o estresse pode aumentar a chance de alguém ter a doença.
A análise de uma amostra de mais de 106 mil mulheres (das quais 1736 tiveram um tumor mamário) não conseguiu estabelecer relação entre episódios de tensão acumulada ao longo da vida e a doença, ou seja, a casualidade não ficou comprovada.
Outro estudo, dessa vez feito na Austrália, acompanhou por 15 anos um grupo de mulheres com histórico familiar de câncer de mama (o que, em tese, eleva o risco de desenvolver o quadro). Ao todo, quase 3 mil voluntárias participaram da pesquisa. No fim, ela também não encontrou relação entre o desenvolvimento da neoplasia e o estresse.
Ademais, as pesquisas que associam o estresse com a chance de casos de câncer, de recidivas ou de queda na sobrevida precisam transpor seus resultados para análises feitas em humanos. Boa parte do que se sabe hoje foi feito a partir de estudos com animais ou células isoladas em laboratório.
… E o que não deve ser ignorado de qualquer forma
Independentemente de qualquer estudo ou pesquisa, a preocupação com o bem-estar psicológico da paciente com câncer de mama jamais deve ser negligenciada.
É natural sentir-se ansiosa, triste ou estressada por conta da situação, mas encontrar formas de lidar com esses sentimentos pode minimizar a queda na qualidade de vida. Entre os mecanismos que podem ser adotados para aliviar o peso da situação estão:
- Encontrar distrações e hobbies no cotidiano.
- Engajar-se em atividades em grupo.
- Adotar práticas de relaxamento e meditação
- Compartilhar experiências com outras mulheres.
- Contar com o apoio da família.
- Fazer atividades simples do dia a dia, sempre dentro do possível.
- Praticar exercícios físicos, sejam eles quais forem.
- Evitar o consumo de álcool e de tabaco.
Como quase tudo que envolve a oncologia, a relação entre estresse e câncer de mama é cercada de incertezas, dúvidas e nuances que nem sempre são simples de esclarecer. Ainda assim, deixar de lado tal aspecto tende a ser uma abordagem equivocada, com impactos significativos sobre o bem-estar da paciente.
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