Câncer de mama: os efeitos colaterais da terapia hormonal
Assim como em qualquer outra forma de tratamento da condição, os efeitos colaterais da terapia hormonal (conhecida ainda como hormonioterapia ou terapia endócrina) podem comprometer a qualidade de vida da paciente. Muitas vezes, isso faz com que ela interrompa a intervenção, gerando consequências negativas para a evolução do quadro.
Dessa forma, é importante que toda mulher que receba a indicação dessa terapia tenha a orientação adequada sobre as possíveis alterações e o que pode ser feito para minimizar as principais queixas relacionadas.
A lógica por trás do tratamento hormonal no câncer de mama
Nas mulheres, a progesterona e o estrogênio desempenham funções relacionadas à fisiologia feminina (como a gravidez e o ciclo menstrual). No entanto, alguns tipos de tumores de mama possuem receptores hormonais que se ligam a esses hormônios do corpo. Assim, as células cancerígenas crescem e se proliferam com mais velocidade.
A identificação desses receptores é feita a partir de biópsia ou cirurgia. Na prática, isso ajuda a classificar o câncer como estrogênio positivo ou progesterona positivo.
Tumores que possuem ambos os receptores são denominados receptores hormonais positivos (ou ER) ou luminais.
Em média, entre 67% e 80% dos cânceres em mulheres são ER positivo. Nos homens, a taxa chega a 90%. Essa informação é essencial para personalizar o tratamento, tornando-o adaptado e mais eficaz às características de cada paciente.
Assim sendo, a terapia hormonal é uma abordagem terapêutica que tem como objetivo justamente bloquear a produção ou o efeito do estrogênio (e, eventualmente, da progesterona) para ajudar a conter o tumor ou impedir que ele retorne.
Geralmente, o tratamento inclui o uso de determinados medicamentos. Os chamados inibidores de aromatase e os moduladores seletivos do receptor de estrogênio são os mais conhecidos. Porém, em circunstâncias ocasionais, o bloqueio hormonal é feito com a remoção dos ovários ou o uso de radiação, que são opções irreversíveis.
A escolha individualizada desse tipo de tratamento em diferentes circunstâncias
Na maioria dos casos, a terapia hormonal é utilizada em:
- tratamentos adjuvantes em casos de câncer de mama, tanto na pré quanto na pós-menopausa;
- tratamentos neoadjuvantes, com o objetivo de reduzir o tamanho do tumor e aumentar a chance de sucesso do procedimento cirúrgico;
- tratamentos de tumores de mama metastáticos, que é quando o câncer retorna após o tratamento inicial e se espalha para outras partes do corpo.
Adicionalmente, terapias hormonais com o tamoxifeno podem ser utilizadas de forma profilática em mulheres com alto risco de desenvolver um tumor nas mamas. Ciclos de até cinco anos do uso do fármaco podem diminuir bastante a chance de que a doença se desenvolva.
Uma publicação do Journal of the National Cancer Institute mostrou que, em alguns casos, a redução pode ser de até 50%.
Os efeitos colaterais mais comuns da terapia hormonal
Ao mesmo tempo em que bloqueia a ação dos hormônios nas células do tumor, a hormonioterapia também afeta as células saudáveis que dependem do estrogênio e da progesterona para desempenhar suas funções. Por isso, os efeitos colaterais da terapia hormonal podem ser notados.
Embora não seja possível prever de forma antecipada como cada mulher vai reagir ao tratamento, é esperado que a maioria delas relate desconfortos como:
- ondas de calor e suor excessivo;
- sangramento vaginal, principalmente no início do tratamento;
- fadiga, com uma sensação de cansaço que não vai embora;
- dores musculares e nas articulações;
- perda de massa óssea (o que é mais comum com os inibidores de aromatase);
- ganho de peso;
- desconfortos gastrointestinais (constipação, enjoos, diarreias e problemas de digestão);
- alterações que se assemelham ao início da menopausa, como interrupção da menstruação, redução do desejo sexual, diminuição da lubrificação vaginal e mudanças de humor.
É preciso acrescentar que alguns medicamentos utilizados na terapia hormonal estão associados ao risco de complicações mais graves, porém muito raras, sobretudo à medida que o tempo passa. Por exemplo, o tamoxifeno pode incrementar discretamente o risco de um câncer no endométrio ou da formação de coágulos sanguíneos, principalmente nos pulmões e nas pernas.
Em paralelo, outros fármacos podem interferir na fertilidade feminina. Mesmo quando isso não acontece, a gestação não é indicada durante a terapia hormonal. Por outro lado, há evidências de que é possível interromper o tratamento com segurança para tentar engravidar, a partir da devida avaliação profissional.
Saiba mais: O que acontece com a fertilidade durante o tratamento de um câncer de mama
As perspectivas para contornar os efeitos colaterais da terapia hormonal
O primeiro passo para lidar com qualquer um desses sintomas envolve esclarecer dúvidas e expor as eventuais queixas junto ao profissional responsável pela prescrição. Com isso, é possível adotar as estratégias adequadas para amenizar o comprometimento.
Parte das manifestações indesejadas são gerenciadas com mudanças no estilo de vida. As ondas de calor podem ficar menos intensas ao evitar determinados gatilhos (como bebidas alcoólicas ou cafeína) e com o uso de roupas mais folgadas.
Já a fadiga tende a ser menos intensa em pacientes que procuram se exercitar, manter uma dieta saudável e dedicar um tempo maior ao repouso, dentro do possível. E o uso de cremes vaginais com estrogênio, por sua vez, pode ser um recurso útil para lidar com a secura vaginal.
Dessa forma, os efeitos colaterais da terapia hormonal podem ser manejados da melhor forma possível sem que seja necessário substituir o medicamento, alterar doses ou mesmo interromper o tratamento. No caso em que isso for inevitável, médico e paciente devem discutir as alternativas e ponderar cuidadosamente os riscos e benefícios da substituição.
Aproveite e entenda melhor o que pode ser feito para reduzir o risco da recidiva de um câncer de mama.