Hormonioterapia para câncer de mama: como é feita e quais os efeitos colaterais?
Quer saber tudo sobre hormonioterapia para câncer de mama? Então confira este artigo que abrange todas as características desse tratamento!
A hormonioterapia, também chamada de terapia endócrina, é um tipo de tratamento para o câncer de qualquer parte do corpo. Ele funciona com base na inibição dos hormônios, com medicamentos que, na verdade são anti-hormônios.
Neste artigo, vamos falar especificamente sobre a hormonioterapia para o câncer de mama, agindo, especialmente, sobre os hormônios estrogênio e progesterona, mais relacionados neste tipo de câncer.
Exploramos esses hormônios com mais detalhes no artigo sobre anticoncepcional que você pode conferir aqui!
Como funciona a hormonioterapia para câncer de mama?
São duas as principais formas de atuação da hormonioterapia, uma delas é no bloqueio da produção de estrogênio pelo próprio corpo e a outra é na inibição do efeito de crescimento gerado pelos hormônios nas células cancerígenas da mama. Por conta disso, também é importante salientar que não se deve confundir a terapia hormonal com a terapia de reposição de hormônios (TRH).
Na verdade, o efeito da TRH é exatamente o contrário. Ela consiste em repor os níveis de estrogênio e progesterona para aliviar os sintomas da menopausa, já que os níveis de produção natural desses hormônios se tornam menores após o início desse período.
O médico mastologista, com certeza, é o mais indicado para falar sobre a utilização e equilíbrio dos dois tratamentos para cada caso.
Para quem é indicada a hormonioterapia?
A endocrinoterapia é indicada e deve ser oferecida para mulheres com câncer de mama com receptores hormonais positivos (RH+) e a escolha deve ser baseada no status hormonal de cada paciente, ou seja, se ela está na pré ou na pós-menopausa. Como podemos presumir, o câncer do tipo receptor de hormônio negativo (RH-) não surte efeito com tratamento da terapia hormonal, já que, como diz o seu nome, suas células não conseguem fazer ligação com o estrogênio e nem com a progesterona.
Já para o caso de câncer do tipo hormônio receptor positivo (RH+), de acordo com o Breastcancer.org, existem quatro casos principais mais indicados para o uso da terapia hormonal.
Uma curiosidade! De acordo com o American Cancer Society, cerca de 80% dos cânceres são do tipo hormônio receptor positivo. Ou seja, a hormonioterapia se mostra como opção para grande parte dos pacientes.
1. Antes da cirurgia
Se o câncer for considerado de tamanho grande e for do tipo hormônio receptor positivo, é possível recomendar hormonioterapia antes da cirurgia com o objetivo de reduzi-lo. Neste caso, o tratamento recebe o nome de terapia neoadjuvante.
2. Redução do risco de recidiva
Depois da cirurgia para remoção do câncer do tipo hormônio receptor positivo, o médico também pode fazer a indicação da hormonioterapia. Neste caso, a atuação é com o objetivo de reduzir as chances recidiva do câncer. O nome para este tratamento é terapia adjuvante.
3. Câncer avançado
Pacientes diagnosticados com câncer hormônio receptor positivo em estágio avançado recebem a hormonioterapia para impedir o crescimento do câncer.
4. Prevenção do primeiro diagnóstico ou de forma profilática para prevenção do câncer
Nos casos identificados como de risco muito superior à média, o especialista indicará o uso da hormonioterapia para reduzir o risco de desenvolvimento do primeiro diagnóstico de câncer de mama, ou seja, a recomendação tem finalidade preventiva.
Quais os tipos de hormonioterapia para câncer de mama?
Entre os tipos principais de hormonioterapia estão:
1. Inibidores de aromatase (IA)
Este é o tipo de hormonioterapia que impede a produção de estrogênio a partir da inibição da conversão de androgênio em estrogênio dos tecidos periféricos, como da gordura corporal, do fígado e no tumor, inibindo a via enzimática.
Para isso, é feita a administração de remédios que bloqueiam a enzima aromatase. Normalmente é mais indicado para as mulheres que já passaram da menopausa, pois, antes disso, o estrogênio ainda é produzido em grande parte pelos ovários. Também pode ser indicado em conjunto com outros medicamentos que causam uma menopausa temporária.
Os principais inibidores de aromatase são o anastrozol, o exemestano e o letrozol.
Possíveis efeitos colaterais dos inibidores de aromatase:
- Dores articulares;
- Osteoporose;
- Retenção hídrica ou inchaço;
- Em casos raros, pode levar a fraturas em quadros de osteoporose graves.
2. Bloqueadores de estrogênio (SERMs)
Este tipo é conhecido pela sigla SERM, do inglês Selective Estrogen Receptor Modulator, pois agem como antiestrogênios nas células das mamas, mas não em outros órgãos. Assim como outros SERMs atuam em outros órgãos, mas não conseguem atingir as células das mamas. Os medicamentos mais comuns nessa categoria são o tamoxifeno, o raloxifene e o fulvestranto. Dentre elas, o tamoxifeno foi o mais estudado e utilizado no tratamento do câncer de mama.
Esse tipo de hormonioterapia é indicada para:
- De forma profilática ou preventiva, em mulheres com alto risco de câncer de mama;
- Mulheres tratadas com cirurgia conservadora para carcinoma ductal in situ, com foco em redução de recidiva;
- Mulheres com câncer invasivo que já passaram por cirurgia;
- Mulheres com câncer em metástase, que se disseminou para outros órgãos;
- Mulheres na pré-menopausa.
Possíveis feitos colaterais:
- Ondas de calor;
- Secura vaginal;
- Alterações de humor;
- Insônia
- Inchaço nos músculos.
- Mais raramente, quadros de espessamento do endométrio e trombose venosa profunda.
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3. Supressão ovariana
A supressão ovariana ablativa ou hormonal deve ser considerada em casos selecionados, usualmente em mulheres muito jovens, com menos de 35 anos, ou com alto risco de recorrência, que continuam menstruando no final da quimioterapia. Essa orientação é feita com base nos estudos SOFT (Supression os Ovarian Function trial) e TEXT (Tamoxifen e exemestane trial), que demostraram benefício da supressão ovariana associada ao IA (exemestano).
O estudo ASTRRA (Addition of Ovarian Suppression to Tamoxifen in Young Women With Hormone-Sensitive Breast Cancer Who Remain Premenopausal or Regain Vaginal Bleeding After Chemotherapy), por sua vez, confirmou que a abordagem de supressão ovariana conduzida com a administração de goserelina e tamoxifeno tem resultados positivos em períodos de dois anos, se comprado ao tamoxifeno isolado, em resultados compatíveis com o estudo SOFT. A taxa de sobrevida de livre de doença foi de 85,4% nos casos que receberam a intervenção com goserelina e tamoxifeno. Com o uso isolado do tamoxifeno, esse número foi de 80,4%.
De qualquer forma, para promover a supressão ovariana, podem ser utilizados diversos recursos. Os mais adotados são:
- Ooforectomia (cirurgia de remoção dos ovários, de caráter permanente;
- Análogos de LHRH (Receptor do hormônio liberador do hormônio luteinizante): mais empregados que a opção cirúrgica, esses medicamentos bloqueiam o sinal enviado ao ovário para disparar a produção de estrogênio. Nessa classe de drogas estão a goserelina e o leuprolide, que podem ser usadas de forma isolada ou em associação com o tamoxifeno, com o fulvestranto e com inibidores de aromatase;
- Medicamentos quimioterápicos, que danificam a função dos ovários das mulheres sem produção de estrogênio na pré-menopausa. Em alguns casos, a função ovárica retorna tempos depois, em outras o dano é permanente e induz à menopausa.
Quanto tempo dura a hormonioterapia para câncer de mama?
Na maioria dos casos, o tratamento é recomendado por cinco anos após a cirurgia de remoção de câncer precoce. No entanto, algumas pesquisas apontam que a hormonioterapia por períodos entre 7 e 10 anos após a cirurgia pode diminuir consideravelmente o risco de recidiva, em casos selecionados.
Ainda vale ressaltar que alguns casos podem começar com um tipo de hormonioterapia e ser trocado posteriormente. Mais especificamente falando, começam com os bloqueadores e depois são substituídos pelos inibidores enzimáticos, caso a paciente esteja no período da menopausa.
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