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Mulher abrindo carteira vazia

Toxicidade financeira: o impacto financeiro do câncer de mama na vida das pacientes

O conceito de toxicidade financeira aborda os efeitos do impacto financeiro do câncer de mama em quem recebe o diagnóstico da doença

Dia após dia se discute como o diagnóstico de um tumor na mama traz impactos significativos em diversas dimensões, seja do ponto de vista fisiológico, seja no âmbito psicológico. Entretanto, ao mesmo tempo em que as alternativas terapêuticas crescem, o impacto financeiro do câncer de mama decorrente das despesas com o tratamento pode prejudicar a qualidade de vida da paciente.

Foi nesse contexto que o conceito de toxicidade financeira surgiu. Ele engloba os efeitos das complicações geradas pelos custos do tratamento. De um lado, eles podem comprometer significativamente qualquer planejamento financeiro da mulher, levando-a a contrair dívidas para arcar com essas despesas. De outro, a falta de recursos pode prejudicar o acesso às melhores opções de cuidado.

O conceito de toxicidade financeira

As alternativas mais modernas para lidar com um câncer de mama vão desde fármacos recém-lançados no mercado até novas técnicas de diagnóstico e caracterização da doença. Porém, à medida que adotam esses avanços, os serviços de saúde repassam os custos para as pacientes.

Diante disso, arcar com os custos de um tratamento oncológico pode provocar sentimentos negativos que se refletem no bem-estar e na condição clínica da paciente. A partir de então, o termo toxicidade financeira começou a ser usado para descrever esse fenômeno. O conceito surgiu em 2009, nos Estados Unidos. Outras designações comuns para esse problema são estresse financeiro, sobrecarga financeira e angústia financeira.

Não é raro que uma paciente com um tumor na mama tenha que combinar diversas intervenções (como quimioterapia, cirurgia, radioterapia, hormonioterapia, entre outras). Logo, os reflexos financeiros do tratamento de um câncer tendem a ser maiores do que aqueles percebidos em outras condições de saúde.

Em um exemplo simples, alguém que sofre com impacto financeiro do câncer de mama pode postergar a realização de novas consultas (inclusive com outros especialistas aliados do tratamento) ou não conseguir usar determinada medicação. Progressivamente, essa paciente pode ver seu padrão de vida cair, afetando até mesmo a capacidade de fazer frente às despesas básicas (como alimentação, por exemplo).

Quem tem um plano de saúde pode ter que arcar com despesas de coparticipação ou com uma mensalidade elevada para manter o serviço. Quem depende sobretudo do serviço público pode ver os custos repassados na forma de elevação de impostos (distribuídos entre toda a sociedade) ou na redução da qualidade da assistência prestada.

Veja também: O que precisa ser levado em conta no acompanhamento pós-câncer de mama?

O tamanho do impacto financeiro do câncer de mama

Com o tempo, diversos estudos passaram a analisar de perto o impacto da toxicidade financeira na qualidade de vida e na efetividade de um tratamento. Assim, instrumentos estatísticos foram desenvolvidos para mensurar esse efeito adverso.

O principal deles é o COST, sigla em inglês para Comprehensive Score for Financial Toxicity – Functional Assessment of Chronic Illness Therapy. Ele é composto por um questionário que mapeia como o tratamento de uma doença está influenciando na capacidade financeira e sobre os sentimentos que isso desperta.

Foi a partir do COST que um estudo brasileiro mensurou o tamanho da toxicidade financeira em pacientes de uma instituição privada de saúde. Foram coletadas respostas de mais de 900 mulheres, que responderam também um segundo questionário sobre o tema.

Os resultados foram apresentados em 2022 em um congresso da European Society of Medical Oncology. A conclusão foi de que mulheres a partir de 65 anos apresentaram um impacto financeiro negativo diante de tumor que alcançou, na média, uma escala de 2,3 vezes. Tal prejuízo foi ainda maior nas mulheres não-brancas. O crescimento no prejuízo financeiro foi mais elevado também em mulheres desempregadas, em licença-médica do trabalho ou que consideravam seu estado de saúde ruim.

A amplitude da toxicidade financeira entre as pacientes com câncer de mama foi demonstrada também pelas conclusões de um artigo divulgado no começo de 2023. A publicação mapeou a literatura sobre o tema.

A partir dos dados coletados, os autores concluíram que os relatos de estresse financeiro relacionado ao câncer atingiam quase 80% das pacientes em países de renda baixa ou média (como o Brasil). Em países com alto nível de renda, esse patamar foi de 30%.

Recomendações para mitigar os danos provocados pelo estresse financeiro

Os impactos financeiros do câncer de mama variam de pessoa para pessoa. Como não poderia deixar de ser, uma série de aspectos influencia no tamanho do dano gerado pela toxicidade financeira. Entre alguns fatores preponderantes estão idade, etnia, a gravidade da doença e os tratamentos necessários.

Além disso, a dificuldade em manter o emprego devido à doença, a falta de acesso a reservas financeiras e outras responsabilidades (como criar um filho, por exemplo) podem elevar ainda mais o comprometimento financeiro do paciente.

Do mesmo modo, as alternativas para contornar ou minimizar tais reflexos mudam conforme o caso. Em primeiro lugar, uma recomendação geral é conversar sempre com o médico sobre as preocupações relativas às questões financeiras do tratamento. Isso permitirá ao profissional entender de que forma esses obstáculos podem estar afetando a condição clínica.

Da mesma forma, quem usa um plano de saúde pode recorrer a alguém de confiança para esclarecer as cobranças feitas e identificar possíveis alternativas. Quem conta com assistência financiada pelo empregador pode discutir o assunto com o departamento de recursos humanos também.

No mais, algumas organizações sem fins lucrativos mantêm redes de assistência para orientar e fornecer suporte para pacientes com câncer. Desse modo, é possível navegar com mais segurança entre as alternativas disponíveis.

Portanto, diante dos prejuízos à qualidade de vida e à condição clínica, acompanhar o impacto financeiro do câncer de mama deve seguir o mesmo rigor considerado diante dos demais efeitos colaterais do tratamento. Com isso, é possível reduzir o dano da toxicidade financeira e garantir de forma transparente os melhores recursos diante do quadro diagnosticado.

Para reforçar o bem-estar durante o tratamento, veja algumas dicas que ajudam, a fortalecer a saúde mental nesse período.

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