
Confira as atualizações em torno dos casos de linfoma anaplásico associado a implantes
O uso de próteses de silicone para fins estéticos ou reconstrutivos é algo relativamente comum. No entanto, muitas mulheres têm dúvidas e preocupações sobre possíveis riscos relacionados a esses dispositivos. Parte dessa inquietação vem dos relatos de casos de linfoma anaplásico associado a implantes.
Por isso, neste texto, vamos repassar algumas das informações mais recentes sobre o tema. Elas têm como base o consenso da Sociedade Norte-Americana de Cirurgiões Plásticos, cujos especialistas se debruçaram sobre o assunto. O material foi publicado em setembro de 2024 na revista científica Plastic & Reconstructive Surgery.
O que são linfomas anaplásicos?
Antes de tudo, vale repassar o que esse tipo de alteração significa. Na prática, ela é uma neoplasia em que células do sistema imune (em especial as células T) tornam-se anormais e crescem descontroladamente.
De modo geral, as células T ficam a postos e despertam uma resposta imunológica sempre que identificam algum agente externo capaz de ameaçar o organismo humano. O material que compõe as próteses pode ser um desses gatilhos.
Por isso, os especialistas mencionam a possibilidade específica do desenvolvimento do chamado linfoma anaplásico associado a implantes. Ele é conhecido também pela sigla em inglês BIA-ALCL, que significa Breast Implant-Associated Anaplastic Large-Cell Lymphoma.
Leia também: O que é, quais os sintomas e o que pode explicar a doença do silicone?
De que forma essa alteração está associada à presença de implantes de silicone?
O mecanismo exato que leva ao desenvolvimento do linfoma ainda não está totalmente esclarecido. No entanto, muitas das evidências disponíveis apontam que ele está relacionado principalmente às superfícies texturizadas (ou rugosas) de alguns dos implantes de silicone disponíveis no mercado.
De modo bastante resumido, essa superfície texturizada tende a ser mais áspera, pensada para diminuir a movimentação do implante dentro da mama e reduzir algumas complicações (como deslocamentos das próteses).
Porém, essa textura parece funcionar como um agente que pode causar uma resposta inflamatória crônica no organismo, estimulando alterações celulares que podem culminar no linfoma.
Somente em 2011 esse tipo de conexão foi mencionado por uma autoridade de saúde pela primeira vez. Naquele ano, o FDA (Food and Drug Administration, o equivalente à Anvisa no Brasil) alertou médicos e pacientes sobre o eventual vínculo.
A própria Anvisa já emitiu alerta similar, mesmo destacando na época que não identificou relação comprovada entre a colocação do silicone e o aparecimento do linfoma. A instituição tem a autoridade para retirar do mercado os itens que não atendam os parâmetros de segurança, como já aconteceu em algumas circunstâncias.
O que a atualização da Sociedade Norte-Americana de Cirurgiões Plásticos recomenda?
De acordo com a Sociedade Norte-Americana de Cirurgiões Plásticos, a doença normalmente aparece tempos depois da colocação do implante, com um intervalo médio de surgimento de cerca de oito ou nove anos.
No consenso sobre o tema publicado pela entidade, há o registro de 1.687 casos de linfomas anaplásicos associados a implantes em todo o mundo, até abril de 2024. Desse total, 59 tiveram como desfecho o óbito das pacientes.
Como referência, em apenas um ano foram registrados mais de 2,3 milhões de casos de câncer de mama entre mulheres ao redor do planeta, com base nos dados da Organização Mundial de Saúde.
Seja como for, o consenso da Sociedade Norte-Americana de Cirurgiões Plásticos traz algumas atualizações para a prevenção e o acompanhamento de um linfoma anaplásico associado a implantes. Os pontos principais sobre o tema estão nos tópicos abaixo.
A utilização de implantes macrotexturizados deve ser descontinuada
Devido ao risco elevado, o uso dos implantes com a superfície macrotexturizada deve ser evitado. No sentido oposto, implantes lisos não apresentam esse risco aumentado, por isso sua utilização contínua não está desencorajada.
Mulheres com implantes texturizados devem ser informadas e acompanhadas
Pacientes que possuem implantes com superfície texturizada devem receber informações claras sobre o risco, ainda que pequeno, de desenvolver o linfoma.
Por consequência, é fundamental manter o acompanhamento médico regular e buscar atendimento imediato se houver qualquer alteração nas mamas, como inchaço, dor, presença de nódulos ou mudança no formato da mama.
Diagnóstico precoce faz diferença no tratamento
O linfoma associado a implantes geralmente apresenta bons resultados quando diagnosticado precocemente.
A principal abordagem de tratamento consiste na remoção do implante juntamente com a cápsula de tecido ao redor (a chamada capsulectomia total). Na maioria dos casos, isso permite uma recuperação apropriada. Adicionalmente, radioterapia e quimioterapia podem ser adicionadas ao esquema terapêutico.
Retirada profilática da prótese pode ser considerada em casos selecionados
A remoção preventiva dos implantes texturizados pode ser uma opção para algumas mulheres, especialmente entre aquelas com implantes macrotexturizados ou que demonstrem uma preocupação elevada com a questão.
A decisão deve ser feita após avaliação detalhada entre médico e paciente, levando em conta os riscos associados ao procedimento cirúrgico, os benefícios e as expectativas pessoais quanto ao resultado estético obtido.
Recomendações adicionais para pacientes diagnosticados
Para mulheres que tenham sido diagnosticadas com linfoma anaplásico associado a implantes, recomenda-se a remoção do implante do outro seio para prevenir doença bilateral, uma vez que a vulnerabilidade já foi identificada.
Monitoramento por imagem para mulheres com implantes de silicone
Ainda não foram estabelecidas diretrizes de rastreamento específicas, mas depois da colocação de implantes de silicone, especialmente texturizados, recomenda-se o exame por ultrassom ou ressonância magnética a partir dos cinco anos após a cirurgia, repetindo-os a cada dois ou três anos conforme indicação médica.
Em resumo, as orientações publicadas no consenso são relevantes para mulheres que já possuem ou pretendem colocar implantes de silicone. Com isso, as recomendações fortalecem o cuidado e a segurança da intervenção.
Além disso, o documento pode servir como base para que médicos e pacientes discutam os riscos de linfoma anaplásico associado a implantes e adotem as medidas necessárias para mitigá-lo. Ainda que essa seja uma condição rara, o acompanhamento adequado sempre faz diferença.
Entenda agora o que esperar antes e depois da cirurgia de remoção das próteses de silicone.