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Médica mostrando silicone para paciente

Entenda a relação entre linfoma anaplásico de células grandes e silicone

Apesar de raro, os números de casos relatados de casos de linfoma anaplásico de células grandes relacionados a implantes de silicone tem aumentado

As recentes divulgações na mídia acerca de casos de linfoma anaplásico de células grandes em pacientes com implantes mamários tem causado dúvidas e receios em mulheres que desejam colocar silicone, ou mesmo naquelas que já realizaram o implante.

O linfoma anaplásico de células grandes (ALCL) é um distúrbio linfoproliferativo das células T relacionado aos implantes mamários. As células T são responsáveis pela defesa imunológica do nosso corpo contra agentes considerados desconhecidos, tais como o gel presente no implante de silicone.

A possível associação entre os implantes mamários e o linfoma anaplásico foi identificada inicialmente em 2011, nos Estados Unidos, pela Food and Drugs Administration (FDA), a agência reguladora ligada ao departamento de saúde do governo norte-americano. Só há pouco tempo, mais precisamente em 2016, o ALCL foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma classificação independente entre os linfomas.

Apesar de ser considerado raro, de lá para cá os números de casos relatados têm aumentado em todo o mundo, o que tem levado o ALCL a ser objeto de estudos mais detalhados. Por isso, neste artigo vamos detalhar as informações disponíveis atualmente sobre esta doença descoberta há bem pouco tempo.

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O que se sabe sobre o linfoma anaplásico de células grandes

O primeiro caso deste novo tipo de linfoma foi relatado em 1997, a grande maioria dos casos descritos na literatura médica, até o momento, ocorre em pacientes com implantes texturizados.

De acordo com um recente artigo publicado pela International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), até 2020, existiam 35 milhões de pacientes com implantes mamários em todo o planeta e 573 casos de linfoma anaplásico de células grandes relatados.

O estudo sugere que o linfoma associado a prótese mamária (BIA-ALCL) ou linfoma anaplásico de células grandes (ALCL) se desenvolve como resposta imunológica à inflamação crônica induzida pelo implante mamário. Isso se daria por meio da hiperplasia de células T (multiplicação celular) com características antigênicas (que reagem ao anticorpo) e levariam a uma resposta imune de inflamação crônica em torno do implante mamário e consequente degeneração genética e displasia em pacientes geneticamente suscetíveis.

Tal consequência estaria associada, principalmente, a presença de biofilme bacteriano em implantes texturizados, e como consequência de contratura capsular, trauma capsular repetido ou predisposição genética.

A média de idade das pacientes diagnosticadas com este tipo de linfoma é de 52 anos, sendo que o intervalo médio entre a colocação do implante e o diagnóstico é de 9 anos.

Sintomas

Os sintomas mais frequentes são inchaço da mama, pelo surgimento de uma coleção fluida (seroma) espontânea peri-protética ao redor da prótese ou surgimento de tumor associado à capsula da prótese, além de dor, assimetria das mamas e vermelhidão em alguns casos. A ocorrência de linfadenopatia é um sintoma menos comum. Em aproximadamente 70% das pacientes apresenta seroma peri-implante, enquanto as 30% restantes além de seroma apresentam uma massa capsular.

Diagnóstico

Na suspeita de ALCL associado a implante mamário deve-se coletar material para estudo de Anatomopatológico e para Imunofenotipagem por Citometria de Fluxo através de punção e coleta do líquido ou biópsia da massa. O diagnóstico se baseia na Citologia Oncótica e Imunocitoquímica com pesquisa de CD30 e ALK. Atualmente, se a paciente tiver o marcador CD30 positivo na imunoquímica, será diagnosticada com BIA-ALCL e tratada de modo adequado.

Tratamento

Até o presente momento, o tratamento do linfoma anaplásico de células grandes envolve a retirada do implante mamário, bem como de todo o tecido que o envolve. O diagnóstico precoce garante boas possibilidades de cura.

Nos casos de doença residual ou ressecção incompleta, o médico responsável pelo acompanhamento da paciente pode considerar o tratamento radioterápico adjuvante. Já nos casos com acometimento linfonodal e/ou doença a distância, a poliquimioterapia pode se apresentar como uma opção.

As estimativas atuais apontam apenas uma taxa de mortalidade de 2,5% dos casos relatados de linfoma anaplásico de células grandes. Um recall das próteses mamárias de silicone da marca Allergan, modelo Natrelle, foi determinado recentemente pelo FDA visto que a grande maioria dos casos de pacientes que vieram a óbito possuíam implantes desta marca. Contudo, o órgão americano pontuou que mulheres que possuem próteses Allergan não têm a necessidade de retirá-las, visto que os riscos de ALCL são muito baixos. Elas apenas devem ser acompanhadas com regularidade por um profissional qualificado. Aqui no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização, distribuição e importação de três tipos de próteses mamárias da fabricante Allergan, todas do modelo Natrelle, são eles: Natrelle Expansor Tissular Texturizado (lotes a partir de 25/4/2017); Natrelle Implante Mamário Texturizado Allergan e Natrelle Implante Mamário Duplo Lúmen.

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Cuidados necessários para pacientes com implantes mamários de silicone

A colocação de implantes mamários figura entre as cirurgias mais realizadas em todo o mundo, seja por finalidade estética ou para reconstrução das mamas após o tratamento de câncer de mama. Após o fim do período de pós-operatório, muitas pacientes deixam de realizar o acompanhamento regular com o médico mastologista que devem incluir ainda a realização de exames de imagem, como ultrassom, mamografia e ressonância magnética.

Vale ressaltar que grande parte dos casos relatados pela literatura médica de linfoma anaplásico de células grandes são de pacientes diagnosticadas só após alterações avançadas nas mamas. Essas alterações tendem a não surgir de um momento para o outro, o acompanhamento periódico pode auxiliar nesta identificação precoce, possibilitando consequentemente um tratamento mais rápido para qualquer problema encontrado.

A mulher deve buscar acompanhamento médico ao notar qualquer tipo de alteração, como assimetria mamária, inchaço, nódulo ou caroço nas mamas. Além da importância deste acompanhamento com um médico, a paciente também deve ser devidamente informada acerca de dados técnicos da prótese a ser utilizada como marca, modelo, lote e série.

Cuide da saúde de suas mamas, realize um acompanhamento periódico com um mastologista referenciado.

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