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Mulher sentido dores no joelho

Perda óssea na menopausa e câncer de mama: o que você precisa saber

Tratamentos de câncer de mama podem acelerar o comprometimento da massa óssea na menopausa, afetando a qualidade de vida

A perda óssea na menopausa é um fenômeno recorrente: não por menos, esse período da vida das mulheres está associado à elevação no risco de desenvolvimento da osteoporose, que reduz a massa dos ossos e aumenta a chance de fraturas. Além disso, mulheres que passaram ou ainda passam por tratamentos para superar o câncer de mama podem ver a saúde dos ossos ainda mais comprometida.

Dessa forma, é importante entender a relação entre a perda óssea, a menopausa e o câncer de mama e compreender melhor como esses aspectos podem contribuir para afetar a qualidade de vida da mulher, mesmo nos quadros em que ela tem a remissão do tumor nas mamas.

A perda óssea na menopausa

A osteoporose é uma condição caracterizada pelo progressivo comprometimento da massa óssea, tornando os ossos mais frágeis e suscetíveis a fraturas. O desenvolvimento do organismo faz com que, com o passar dos anos, o corpo perca a capacidade de manter a formação óssea adequada, provocando lentamente perda na capacidade óssea. Isso começa acontecer, em média, por volta dos 30 anos. Em geral, o processo é imperceptível, devido a lentidão com que ele acontece.

Normalmente, quadros de osteoporose são uma combinação de deficiência na ingestão de alguns minerais (como cálcio e fósforo) e de vitamina D (responsável pelo processo de absorção do cálcio) e ainda de alterações hormonais. É o que acontece, por exemplo, na menopausa: com a redução da produção de estrogênio, as mulheres contam com um fator de risco adicional para desenvolver essa condição, principalmente a partir dos 50 anos. O hormônio desempenha papel importante na composição da massa óssea, ajudando e na absorção e no metabolismo do cálcio.

A depender do grau de perda de massa óssea, o quadro pode ser caracterizado como osteopenia, em que há perda discreta de massa óssea, sem risco de fraturas. Entretanto, essa condição pode se agravar e evoluir para a osteoporose, onde a perda de massa óssea é acentuada e há risco de fraturas caso não seja feito o tratamento adequado.

Os casos de osteoporose podem ser classificados em primários ou secundários. No primeiro tipo, a doença é desencadeada por fatores relativos à deficiência nutricional, devido a hábitos inadequados ou por causa de histórico familiar. Na segunda categoria, a doença é resultado de um problema anterior, como doenças renais crônicas, distúrbios hormonais, de determinados tipos de câncer, diabetes ou ainda devido ao uso prolongado de determinadas medicações, que diminuem a absorção de cálcio pelos ossos.

Entretanto, a progressão da osteoporose costuma ser silenciosa. Somente quando a perda óssea atinge um patamar avançado é que podem ser notadas dores, deformação nos ossos e fraturas. No entanto, muitas pessoas nunca vão manifestar nenhum tipo de sintoma até que as fraturas comecem a ocorrer. Essas, por sua vez, tendem a ter recuperação lenta e provocar invalidez, dependendo do local e da extensão.

A perda óssea pós-câncer de mama

Se em condições normais as mulheres já são mais suscetíveis a quadros de perda óssea significativa, principalmente após a menopausa, diante de um diagnóstico de câncer de mama a questão deve receber atenção redobrada. A razão é simples: muitos tratamentos para esse tipo de tumor podem acelerar a perda de massa óssea. Isso acontece principalmente com pacientes com tumores receptores de hormônio positivo, devido ao uso de anti-hormônios.

Nesses casos, algumas opções de tratamento envolvem a supressão do estrogênio ou da sua ação no organismo, fazendo com que o tumor não tenha a ajuda do hormônio para multiplicar as células cancerígenas. Para isso, são usados medicamentos (como o tamoxifeno ou os inibidores de aromatase) ou métodos que promovam a inibição da função dos ovários, que pode ser até mesmo definitiva, por meio de cirurgia ou radioterapia.

Leia também: Anticoncepcional e câncer de mama: entenda relação e riscos

O comprometimento da massa óssea pode ser notado mesmo em mulheres que receberam o tratamento para câncer de mama e já estão livres da doença por longos períodos. Em um estudo com 115 mulheres tratadas em um hospital universitário da Faculdade de Medicina de Botucatu, no estado de São Paulo, todas as pacientes tinham 45 anos ou mais de idade, tinham tido a última menstruação há pelo menos mais de 1 ano e estavam ao menos há 5 anos livres do câncer nas mamas, 60% delas apresentavam baixa densidade óssea após avaliação.

Esses números parecem estar alinhados com outras estatísticas a respeito do tema, conforme os próprios autores reforçam. De acordo o Women’s Health Initiative Observational Study, em um grupo de 209 mulheres tratadas para combate do câncer de mama, a prevalência de deficiências na densidade óssea era maior se comparadas a outras mulheres que nunca haviam recebido nenhum tipo de tratamento do tipo. As pacientes com câncer tinham 55% mais chance de sofrer uma fratura no quadril.

O que pode ser feito

Outro estudo, dessa vez feito nos Estados Unidos, além de reforçar que mulheres com câncer de mama têm um risco maior de desenvolver osteoporose, mostrou que elas discutiam menos esse assunto com seus médicos e não recebiam informações adicionais sobre o risco de comprometimento de massa óssea. O primeiro passo para manejar melhor tal condição é reforçar as melhores estratégias para minimizar o problema.

Em um primeiro momento, a adoção de alguns hábitos é de extrema valia. Isso inclui manter uma rotina regular de prática de exercícios físicos, abandonar o cigarro, reduzir o consumo de álcool e reforçar a ingestão de cálcio, seja por meio da alimentação, seja por suplementação, conforme orientação profissional. Vale sempre lembrar que o cálcio só é absorvido adequadamente com a presença de vitamina D, gerada a partir da exposição da pele humana ao Sol ou também por meio de suplementação.

O médico também pode prescrever alguns medicamentos específicos para o problema. Um dos mais comuns é o ácido zoledrônico, medicamento utilizado para reduzir a liberação de cálcio pelos ossos e inibir a reabsorção óssea. O denosumabe, um anticorpo monoclonal que atua aumentando a massa óssea inibindo a proteína RANK, também oferece bons resultados. Essa proteína é responsável pela ativação de células que reabsorvem e retiram o cálcio dos ossos e aumentam os níveis do cálcio no sangue.

Inclusive, um artigo publicado na The Lancet e apresentado na reunião de 2022 da American Society of Clinical Oncology (ASCO) mostrou que o denosumabe contribui para aumentar a densidade óssea e sobrevida livre de doença de pacientes tratadas com inibidores de aromatase. Em um ensaio duplo cego, o grupo de mulheres que recebeu as doses de denosumabe demorou mais tempo para registrar uma fratura e teve períodos mais longos sem manifestações do tumor, incluindo possíveis metástases.

Para concluir

O comprometimento dos ossos na menopausa é ainda mais relevante em pacientes de câncer de mama que receberam determinados tipos de tratamento relacionado à inibição do estrogênio, mesmo depois que eles são encerrados. Os serviços de saúde devem sempre reavaliar a necessidade de estratégias para lidar com esse problema, que não raro, fica negligenciado diante do impacto emocional que o diagnóstico e o tratamento de um tumor trazem.

Leia também: Como exercícios podem ajudar na prevenção e no tratamento do câncer de mama

Nesse sentido, médicos devem ser capazes de fornecer as informações relevantes sobre a questão e estimular a adoção de hábitos capazes de reverter a progressão da perda óssea na menopausa, período em que isso é mais significativo. Além disso, é preciso fazer o acompanhamento adequado e garantir a promoção do bem-estar ao longo de toda a sobrevida dessas pacientes.

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