A relação entre a retirada dos ovários e o risco aumentado de insuficiência cardíaca
A retirada dos ovários pode ser indicada em diferentes situações, principalmente quando há risco aumentado para o desenvolvimento de câncer de mama ou de ovário.
Embora o procedimento seja considerado seguro, uma nova pesquisa, apresentada na Sessão Científica Anual do Colégio Americano de Cardiologia de 2025, alerta para a importância de se avaliar cuidadosamente o momento de realização da cirurgia, uma vez que a retirada dos ovários antes da menopausa pode elevar o risco de insuficiência cardíaca no futuro.
Por isso, entender essa relação é essencial para que a decisão seja tomada com segurança, junto ao acompanhamento médico adequado.
Possíveis indicações para a retirada dos ovários
Chamada de ooforectomia bilateral, a remoção dos ovários pode ser recomendada por diferentes motivos, desde o tratamento de doenças até a prevenção de certos tipos de câncer.
Em muitos casos, ela é feita em conjunto à retirada das tubas uterinas, procedimento conhecido como salpingo-ooforectomia bilateral.
Entre as indicações mais comuns está a prevenção do câncer de mama e de ovário em mulheres com alto risco genético. Essa conduta é considerada profilática . Ou seja, visa reduzir a probabilidade de surgimento da doença no futuro.
Os principais fatores que costumam orientar essa decisão são:
- presença de mutações genéticas nos genes BRCA1 e BRCA2;
- histórico familiar de câncer de ovário ou de mama;
- diagnóstico prévio de câncer de mama precoce (entre os 20 e 40 anos).
Impactos no organismo após a remoção dos ovários
Em mulheres com alterações genéticas conhecidas, a retirada dos ovários pode diminuir significativamente o risco de desenvolver câncer, especialmente quando associada a outras medidas preventivas e de acompanhamento regular.
Isso ocorre porque a remoção dessas estruturas provoca a queda abrupta da produção de hormônios femininos, como o estrogênio e a progesterona.
Em contrapartida, a alteração hormonal pode gerar consequências negativas ao organismo feminino.
Uma delas é a antecipação dos sintomas da menopausa e efeitos em diferentes sistemas do corpo, incluindo o cardiovascular, o ósseo e o metabólico.
Como a retirada dos ovários aumenta o risco cardíaco
Como citado, o estudo apresentado na Sessão Científica Anual do Colégio Americano de Cardiologia revelou que mulheres cujos ovários foram removidos antes da menopausa podem apresentar maior probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca em um momento posterior.
A pesquisa avaliou 3.972 mulheres, com idade média de 44 anos no momento da cirurgia. Ao longo do acompanhamento, 36 delas (menos de 1%), com média de idade de 57 anos, desenvolveram insuficiência cardíaca.
Apesar do número absoluto ser baixo, as mulheres submetidas à ooforectomia bilateral apresentaram 50% mais probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca em comparação às que não passaram pelo procedimento.
O quadro ocorre quando o músculo do coração não consegue bombear sangue de forma eficiente para o restante do corpo. Com isso, o sangue pode se acumular e provocar retenção de líquidos, especialmente nos pulmões e nas pernas. Os sintomas mais frequentes incluem falta de ar durante atividades leves ou ao deitar, batimentos irregulares, fadiga, inchaço nos membros inferiores e chiados no peito. Embora seja uma condição séria, o tratamento adequado pode melhorar a qualidade de vida e prolongar a sobrevida.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo acreditam que o aumento verificado no risco cardíaco esteja relacionado à queda súbita dos níveis de estrogênio. Isso porque o hormônio contribui para a proteção do coração e para manter o bom funcionamento dos vasos sanguíneos.
Entre as participantes, o risco também foi ainda mais alto entre mulheres brancas, que tiveram duas vezes mais chance de apresentar a condição.
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Como reduzir o risco cardíaco e cuidar da saúde após a remoção ovariana
A decisão de retirar ou não os ovários deve envolver sempre uma equipe médica multidisciplinar para que seja definido o momento ideal e as estratégias de acompanhamento após a cirurgia.
Assim, caso o procedimento se prove realmente necessário, sobretudo antes da menopausa, é importante conversar com profissionais sobre formas eficazes de proteger a saúde cardiovascular.
Entre as medidas que podem ser consideradas para evitar o risco cardíaco, destacam-se:
- avaliação regular da função cardíaca e dos níveis de colesterol;
- prática de exercícios físicos orientados;
- alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes e gorduras boas;
- controle da pressão arterial e do estresse;
- discussão sobre a terapia de reposição hormonal, quando indicada (exceto em casos de câncer de mama com receptor hormonal positivo).
De acordo com os pesquisadores do estudo, adiar o procedimento também pode ser uma alternativa para algumas mulheres, desde que o risco oncológico permita.
Adicionalmente, outra possibilidade é o uso de medicamentos que interrompem temporariamente a função ovariana, embora o impacto dessa abordagem sobre o risco cardíaco ainda não seja totalmente conhecido.
Diante de todos esses aspectos, é fundamental que cada caso seja sempre analisado individualmente para garantir a segurança da paciente, levando em conta o histórico familiar, as condições de saúde e o acompanhamento contínuo com profissionais especializados.
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