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Mulher tomando medicação tamoxifeno

Tamoxifeno: o que é e quais os efeitos colaterais de um dos medicamentos mais importantes da história da oncologia?

Um marco da história da oncologia, o tamoxifeno pode ser usado no tratamento e na prevenção de recidivas e novos casos de câncer de mama

Hoje, quem recebe um diagnóstico de câncer de mama conta com diferentes abordagens, que combinam várias possibilidades de tratamento para alcançar a remissão do tumor. Contudo, nem sempre foi assim e por muito tempo as alternativas para lidar com a doença eram limitadas e, muitas vezes, pouco eficientes.

Felizmente, com o avanço da ciência, isso foi mudando até chegarmos ao estágio atual de desenvolvimento. Nessa trajetória, alguns marcos merecem destaque especial. E esse é o caso do desenvolvimento e introdução do tamoxifeno no tratamento e até mesmo na prevenção do câncer de mama. Por isso, veja tudo o que você precisa saber sobre esse fármaco que estabeleceu uma revolução nessa área da medicina.

A história do tamoxifeno

O desenvolvimento do tamoxifeno se deu, em partes, de forma acidental. Em meados dos anos 1960 ele havia sido testado para a criação de novos contraceptivos de emergência devido a sua familiaridade com o estrogênio, o principal hormônio sexual feminino.

Embora tenha se mostrado promissor nos testes com camundongos, o tamoxifeno foi ineficaz no objetivo de provocar efeito contraceptivo em humanos. Assim, ele ficou de lado e quase teve seu uso clínico descartado.

Isso não aconteceu, pois, um dos membros da equipe inicial de pesquisa suspeitava de que aquele novo fármaco poderia ter aplicações em casos de câncer de mama receptor de hormônio positivo. Desde o final do século 19, se sabia que o desenvolvimento de alguns tumores estava relacionado à exposição das células cancerígenas ao estrogênio.

O cirurgião britânico George Beatson, por exemplo, ficou famoso justamente por prolongar a sobrevida de alguns pacientes com câncer de mama removendo seus ovários, a principal fonte de estrogênio do organismo feminino.

Dessa forma, ao longo das décadas, vários bloqueadores de estrogênio foram desenvolvidos. Alguns deles tiveram resultados positivos, mas os efeitos colaterais eram tão expressivos que impediam um uso mais amplo.

Além disso, o momento em que a pesquisa com o tamoxifeno para fins contraceptivos chegou a um beco sem saída coincidiu com o ressurgimento no interesse pela busca por medicamentos capazes de atuar no bloqueio do estrogênio para combater o câncer de mama.

Com isso, parte da equipe inicial dos estudos com o tamoxifeno como método contraceptivo resolveu testar a nova aplicação do fármaco. No início dos anos 1970 foi feito o primeiro teste clínico com esse fim, em um hospital da Inglaterra. Naquele estudo inicial, de 46 mulheres diagnosticadas com câncer de mama que receberam o medicamento, 10 mostraram uma boa resposta ao tratamento. Em 1972, o tamoxifeno foi registrado no Reino Unido.

Como o tamoxifeno atua nos casos de câncer de mama

Na prática, o que o tamoxifeno faz é bloquear a atuação do estrogênio nas células de tumores receptores de hormônio positivo. Dentro do organismo, o tamoxifeno se liga a esses receptores nas células cancerígenas, impedindo que eles recebam estímulo hormonal para crescer e se multiplicar.

Apesar disso, ele pode atuar de forma similar ao estrogênio em outras partes do corpo, como no útero e nos ossos. Por essa razão, o tamoxifeno é classificado como um modulador seletivo dos receptores de estrogênio.

Dessa forma, ele não atua em tumores com receptor de hormônio negativo ou que tenham apenas os receptores positivos para a progesterona. Por isso é tão importante conhecer o status desses receptores hormonais na definição do tratamento.

Em média, 2 a cada 3 tumores nas mamas são receptores positivos de algum desses hormônios, que provocam uma evolução mais lenta do quadro. Por outro lado, os prognósticos são melhores, ainda que tal condição represente uma chance maior de recidiva no futuro.

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Principais indicações, como ingerir e efeitos colaterais mais comuns

Nem todas as pacientes com câncer de mama se beneficiam da prescrição do tamoxifeno em casos de câncer de mama. Além do status do receptor hormonal do tumor e do estadiamento do câncer, outros aspectos são levados em conta, como risco associado a alguns efeitos colaterais ou uma eventual gravidez.

Desse modo, ele apresenta maior potencial em oferecer resultados positivos principalmente em complemento à cirurgia e à quimioterapia. Alguns dos quadros indicados para a prescrição do fármaco são, por exemplo:

  • Mulheres que foram tratadas com cirurgias conservadoras para carcinoma ductal in situ;
  • Mulheres com tumores receptores positivos de estrogênio tratadas cirurgicamente. O tamoxifeno pode ser introduzido antes ou depois da cirurgia;
  • Mulheres com câncer de mama em estágios iniciais que ainda não tenham passado pela menopausa. Para mulheres que já tenham atravessado esse período, os chamados inibidores de aromatase costumam ser a indicação de referência;
  • Mulheres com câncer com receptor positivo que tenha se espalhado para outras partes do corpo. O medicamento pode contribuir para reduzir a velocidade desse espalhamento ou mesmo reduzir alguns focos do tumor pelo corpo;
  • Para mulheres ainda não diagnosticadas com câncer de mama, mas com alto risco de desenvolvimento desse tipo de tumor. Além disso, o uso prolongado pode reduzir o risco do desenvolvimento de tumores contralaterais (na mama oposta àquela que foi tratada cirurgicamente).

Em média, o ciclo de tratamento utilizando o tamoxifeno deve se estender por, ao menos, 5 anos. O respeito ao prazo é fundamental. Períodos menores de 2 anos tendem a oferecer um benefício insignificante, por exemplo. Além disso, já há evidências de que pacientes com alto risco de recidiva podem se beneficiar com terapias estendidas por períodos entre 7 e 10 anos.

Como tomar o tamoxifeno?

O tamoxifeno está disponível na forma de comprimidos. Ele pode ser ingerido normalmente com água, geralmente uma vez ao dia.

Ele não deve ser administrado em conjunto com alguns tipos de anticoagulantes. Além disso, parece haver uma redução na eficácia do tamoxifeno quando ele é tomado junto com alguns antidepressivos da classe dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (em especial a fluoxetina e a paroxetina).

No mais, pacientes em tratamento com o tamoxifeno não devem receber em conjunto inibidores de CYP2D6 também sob o risco de ver o efeito do medicamento reduzido. Em todo caso, converse sempre com seu médico em caso de dúvida.

Quais os principais efeitos colaterais?

Como qualquer medicamento, o tamoxifeno também apresenta efeitos colaterais. A intensidade e a frequência de cada um deles varia caso a caso. Os desconfortos mais comuns são:

  • Ondas de calor;
  • Ressecamento e corrimento vaginal, devido ao bloqueio da atuação do estrogênio no estímulo à lubrificação natural. Isso pode provocar também dor e coceira durante relações sexuais.
  • Náusea;
  • Alterações de humor;
  • Fadiga;
  • Constipação intestinal;
  • Ressecamento da pele;
  • Em casos raros, pode haver sangramento vaginal. Esse sintoma deve sempre chamar a atenção devido ao risco de câncer de endométrio associado ao uso do tamoxifeno.

Não há indícios de que o tamoxifeno provoque ganho de peso de forma direta, uma preocupação comum das pacientes. Contudo, o sobe e desce emocional e hormonal do tratamento de um câncer pode favorecer o ganho de massa corporal.

Por isso, há sempre a orientação para a manutenção de dieta equilibrada e a prática regular de exercícios físicos. Esses hábitos também contribuem em outros aspectos, como na manutenção do bem-estar e no controle de outras doenças, como diabetes e distúrbios cardiovasculares.

Além dessas alterações, de forma mais rara, o tamoxifeno pode provocar quadros mais sérios. Entre os mais frequentes estão coágulos sanguíneos e tumores no endométrio, uma vez que o medicamento pode provocar alterações no tecido que reveste o útero.

Com isso, os efeitos colaterais podem ser uma barreira para a adesão necessária ao tratamento com tamoxifeno. Porém, nunca é demais reforçar que a interrupção da utilização do tamoxifeno antes do final do ciclo recomendado aumenta a possibilidade de manifestação da doença, o que obviamente contribui para prejuízos significativos à qualidade de vida e o risco de óbito.

Embora não tenha sido a primeira medicação antiestrogênio desenvolvida, o tamoxifeno representou um marco na história e abriu caminho para o desenvolvimento de novas terapias, cada vez mais bem toleradas e com maiores chances de sucesso. Dessa forma, com o diagnóstico feito de forma precoce aumentam as chances de que a paciente com câncer de mama tenha uma sobrevida longa e satisfatória.

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